AMC JAVELIN AMX 1971 – ACRONÍMIA SOBRE QUATRO RODAS

As Miniaturas AMC Javelin AMX da Hot Wheels
Confesso que fui assomado de uma expectativa muito grande quando vi anunciado na coleção do ano de 2010 da Hot Wheels (HW), nclip_image004a sua Mainclip_image002line (linha principal), na série Muscle Mania, a divulgação de um modelo bastante intrigante e pouco conhecido entre os brasileiros, o AMC Javelin AMX, com apresentação em pelo menos três variações belíssimas. Ao adquirir os modelos a expectativa deu lugar a um sentimento próximo ao daclip_image006 frustração, mas não de total desalento, pois ainda que detectadas algumas falhas grosseiras nas miniaturas, como aqui indicaremos, isto não retirava da fabricante o mérito pela feliz escolha e inclusão de itens sensacionais na sua linha principal, principalmente pelo subjetivismo a que a fabricante nos remeteu ao tentarmos entender o que ela pretendia com aquelas configurações, daí porque essas miniaturas têm, sim, o valor e status de itens colecionáveis. Mas o que dizer de tais veículos e porque a fabricante preocupou-se em incluir essas miniaturas na série Muscle Mania (carros musculosos)? Qual a importância de tais modelos e o que os acrônimos AMC e AMX querem dizer? Qual o significado da palavra inglesa javelin, que dá nome ao carro? Será que tal veículo existe ou existiu de verdade? Por que esse veículo ostenta um número e está pintado como os carros de competição das corridas de automobilismo? As respostas procuraremos dar ao longo do desenvolvimento deste artigo.
O Sentido do Colecionismo em Geral
Ora, um dos sentidos que justificam o colecionismo de uma maneira geral é a representação e o significado do item colecionado. A partir dessa dimensão o objeto passa a ser item colecionável. Não se justifica colecionar algo de que não se tenha conhecimento, ou simplesmente adquirir algo sem que se saiba do que se trata e está vendo, comprando, expondo e guardando. A informação está vinculada ao colecionismo, aos itens que integram a coleção. Imagine você, colecionador ou iniciante na arte do colecionismo, diante das inúmeras possibilidades e ofertas do mercado, começasse a adquirir uma determinaclip_image008da gama de produtos ditos colecionáveis, simplesmente porque o fabricante diz serem de coleção e efetivamente não se interessasse por mais nada, não soubesse e nem conhecesse a história por trás daqueles itens escolhidos para a representação miniaturizada, não entendesse a simbologia e o significado da coisa em forma de miniatura, o porquê da inclusão de um veículo, ou daquele modelo estar integrando determinada coleção naquela forma de apresentação, tamanho e escala. Para o comerciante isso tudo pode não ter nenhuma relevância, o que lhe interessa é vender o seu produto e alcançar o almejado lucro. Para o verdadeiro colecionador, não. O colecionismo somente tem sentido, portanto, atrelado ao conhecimento e à busca dele sobre o item que se coleciona, conhecimento que se revela através de inúmeras facetas: curiosidades sobre o material e a composição de que é feita a miniatura e o produto, sua quantidade e limite de produção e variações, quem a criou ou desenvolveu, quem a fabricou e por que a fabricou, qual a história daquela representação, o ano de sua fabricação e por que ela está sendo retratada, as escalas e os tamanhos disponíveis, os detalhes e a maior aproximação e acuidade com aquilo que efetivamente representa, enfim, tudo que diz respeito à informação. O lúdico envolve o prazer e todas as atividades que o desperta e por isso mesmo não pode deixar de ser uma fonte de cultura, ensino e aprendizagem, enfim, colecionar é reunir informação sobre algo que se gosta, é aproveitar a abstração do conhecimento e possibilitar que os demais sentidos sejam aguçados com a materialização, com a concretude, com a tridimensionalidade, ainda que em forma de miniatura.
Crítica aos Fabricantes de Miniaturas de Veículos
Um dos maiores pecados capitais que os fabricantes de miniaturas cometem – e com bastante frequência, principalmente os fabricantes de veículos em miniaturas – é a pouca ou quase nenhuma informação sobre o produto lançado nas respectivas disposições e embalagens e a ausência de detalhes que valorizam o produto. Preocupam-se com o visual da marca, o desenho da embalagem, mas menosprezam a informação. Isto incomoda, principalmente quando a própria materialização em forma de miniatura foge às especificações originais ou do contexto histórico do modelo original que se quis retratar. Aquilo que poderia ser colecionável, representação material miniaturizada – quanto mais acurada e detalhada melhor – passa a ser simplesmente mais um item, sem as características ou o valor de algo colecionável. Ora, se eu conheço o item ou o veículo da miniatura, tudo bem, eu o adquirirei porque já tenho a informação. Agora, e se eu não sei absolutamente nada sobre esse veículo, porque teria interesse em adquiri-lo? A informação – informação acurada – não pode estar dissociada do item colecionável e nisso os fabricantes pecam e muito, máxime quando deixam os detalhes escaparem e não fidelizam a miniatura com o modelo original retratado e copiado, insistimos.
Os AMC Javelin AMX da Série 2010 da Hot Wheels são um caso típico e se encaixam como uma luva no que estamos falando.
A História dos Modelos Miniaturizados Supostamente Retratados
A American Motors Company (AMC), no final da década de 60 e início da década de 70, resolveu tomar uma atitude contra o fato de ser conhecida e taxada de fabricante de modelos “patinhos feios” na indústria automotiva americana. A proposta: o American Motors Experimental (AMX), o Javelin, um puro sangue musculoso que iria transformar de modo drástico o conceito de veículos esportivos e competitivos da indústria do Tio Sam. Na tradução para o português, o Javelin seria um dardo, um projétil aerodinâmico e morfologicamente belo, cobiçado e arremessado no mercado, visando atingir um público alvo, o jovem americano apaixonado por carrões musculosos da década de 70. Como divulgar a marca e o modelo? Melhor veiculação não poderia existir senão com a inclusão do carro no campeonato de corridas da categoria Trans-Am, uma febre que se alastra até hoje no mundo do automobilismo.
A Trans-Am, vinculada a um regulamento bastante peculiar, organizada e submetida às rédeas da SCCA (Sports Club Car of America), tratava-se de uma competição que premiava apenas os fabricantes, era um campeonato em série de construtores dos modelos esportivos americanos mais famosos, os Camaros, Mustangues, Challengers (Dodges), dentre outras marcas prevalentes naquele mercado, os chamados “muscle cars”. Normalmente, o regulamento previa duas categorias, uma para modelos com capacidade superior a 2 litros e a outra para carros com capacidade inferior a 2 litros. Para os veículos com capacidade superior a 2 litros a série de corridas era de 13 (treze) etapas, sendo que os fabricantes deveriam descartar os 4 (quatro) piores resultados, validando-se apenas as 9 (nove) melhores performances para efeito de pontuação para obter o título de campeão. As corridas dos veículos com capacidade superior a 2 litros tinham duração de 1h45m, enquanto que os automóveis com capacidade inferior a 2 litros disputavam corridas de 1h.
Para que um fabricante pudesse inserir o seu veículo e/ou inscrevê-lo na categoria Trans-Am, necessário que o pedido de inscrição e inclusão passasse por uma chancela ou homologação da SCCA. O requisito mais intrigante seria o de que no ano anterior à pretendida inclusão e inscrição o fabricante do modelo disponibilizasse uma produção mínima de 2.500 (duas mil e quinhentas) unidades do modelo automotivo no mercado americano, uma forma de alavancar a indústria automotiva, gerar empregos, promover vendas e circular riqueza, circunstâncias típicas do modelo capitalista.
O Verdadeiro AMC Javelin AMX 1971 de Mark Donohue
No ano de 1970, a equipe de Roger Penske (Sunoco – qualquer coincidência com a Copa Pistão e a almejada contratação para a Equipe Dinoco, retratados no filme de animação “Carros”, não é mera coincidência), aliada a um dos mais promissores pilotos de corrida norte-americanos de todos os tempos, o engenheiro mecânico Mark Donohue, que já havia se sagrado bicampeão da Trans-Am, nos anos de 68 e 69, pilotando Camaros (Chevrolet), resolveram competir utilizando os modelos AMC Javelin AMX, o que fez com que a AMC desenvolvesse no ano de 1971 para o mercado americano o modelo especial AMC Javelin Mark Donohue, aproveitando sua colocação em segundo lugar no ano de 1970, quando perdeu o campeonato naquele ano por apenas um ponto. A diferença crucial com os demais modelos anteriores Javelins era o “spoiler” traseiro na forma de rabo de pato.
Para que se tenha uma noção da importância do modelo então pilotado por Mark Donohue na cultura americana e entre os fãs de automobilismo mundial e carros de competição em geral, no início do segundo semestre do ano de 2010, o carro campeão em 1971 foi arrematado por quase US$ 400,000.00 (quatrocentos mil dólares americanos) num leilão bastante conhecido, o Auction Block.
Pois bem, voltando aos modelos e miniaturas, os AMC Javelin AMX aqui retratados, fabricados pela Hot Wheels, são três modelos belíssimos, mas descaracterizados e dissonantes com a história dos Javelins e da própria Trans-Am e foram concebidos em total desalinho com os modelos originais que acreditamos a Hot Wheels quis homenagear de alguma forma, principalmente o modelo de 1971, pilotado por Mark Donohue, que o tornou tricampeão da competição. Mark Donohue faleceria quatro anos depois numa categoria totalmente diferente da Trans-Am, a Fórmula 1, no GP da Áustria de 1975, após um acidente nos treinos de aquecimento da etapa austríaca, quando bateu muito forte contra a mureta de proteção num determinado setor crítico do circuito. Apesar de socorrido e aparentemente consciente, veio a entrar em coma após ser transportado de helicóptero para o hospital mais próximo, antes queixava-se de dores de cabeça muito fortes, possivelmente oriundas de um traumatismo causado pela queda de um poste do circuito.
As Impressões sobre as Miniaturas da Hot Wheels
Vejamos algumas falhas grosseiras dos modelos da Hot Wheels ao procurar retratar o modelo original pilotado por Mark Donohue:
· As variações naclip_image010s cores vermelho e verde, em tom metálico, são pura ficção da fabricante das miniaturas, pois na Trans-Am os Javelins eram pintados na cor sólida, nas tonalidades azul, branco e vermelho, como mais ou menos se vê do modelo variável de cor predominantemente azul, excluindo-se o brilho metálico;
· Os modelos da Hot Wheels não trazem o nome da Equipe Sunoco, que no modelo original ficava à mostra, sobre os para-lamas dianteiros dos Javelins;
· A divisão da palavra Javelin no modelo da Hot Wheels está compreendida entre os para-lamas e as portas laterais. Ocorre que no modelo original, o “J” de Javelin ficava isolado em uma das seções do carro e o restante da palavra, “avelin”, ficava inteiramente numa outra seção. Nos HW retratados as letras que formam a palavra Javelin estão quase que divididas pela metade, nas portas e nos para-lamas;
· Os modelos da Hot Wheels não trazem o nome do fabricante Goodyear na parte superior de suas portas, à altura da palavra Javelin, como no modelo original, mas na parte inferior das portas;
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· Os modelos da Hot Wheels parecem ser uma homenagem ao AMC Javelin AMX de 1971, no entanto, trazem o #4 (quatro) impresso nas miniaturas. Ocorre que o #4 somente esteve presente nos carros da equipe no ano de 1968, portanto, num outro modelo muito diferente do que é retratado nas miniaturas, aquele era dirigido pelo piloto George Follmer;
· O saiote dianteiro dos Javelins da Trans-Am eram pintados na cor vermelho e não eram cromados, como na miniatura da Hot Wheels, que também não traz os nomes Javelin nele impresso;
· O número do carro da Trans-Am também vinha pintado entre o rabo de pato e o para-brisa do veículo, ou seja, na tampa do porta-malas. No modelo da Hot Wheels não existe nenhuma alusão ao número no local; clip_image014
· No modelo original, predominantemente azul, o teto dos Javelins era branco, atravessado ao meio por uma faixa, como se estivesse unindo os para-brisas traseiro e dianteiro, pintado na mesma cor vermelho que preenchia a seção traseira. Um dos modelos da Hot Wheels que mais se aproxima do original traz o teto inteiramente pintado de azul, sem faixas no teto, longe das especificações do modelo original que pretende, acreditamos, retratar;
· Os exaustores duplos que saem do interior do assoalho, acoplados ao chassi, localizados próximos às rodas traseiras do veículo no modelo original não são retratados nas miniaturas da Hot Wheels, que prefere repetir o molde dos chassis dos demais modelos, sem qualquer realce e distinção e
· As lanternas traseiras, bem como os faróis dianteiros não possuem nenhum destaque ou realce que os diferenciem ou distingam, completamente sem pinturas de destaque.
Conclusões
Não se justificam os erros primários aqui apresentados, a não ser a completa falta de compromisso com a acuidade, isso sem levar em conta o fato de que os carros da Mainline da Hot Wheels são todos vendidos ao preço médio de R$ 4,95 (quatro reais e noventa e cinco centavos) e ainda não trazem pneus de borracha seriados, com exceção dos modelos Super T-Hunts, estes disputadíssimos nas lojas especializadas.
Os mais desavisados poderiam achar e dizer que a melhoria e riqueza de detalhes, bem como uma maior acuidade da miniatura com o modelo original interfeririam no preço final praticado no Brasil, que já é muito alto, diga-se de passagem. Tal fato comprometclip_image016eria a oferta e o amplo acesso ao produto? Não, isso não é justificativa. Acaso se faça uma pesquisa no mercado mundial, excluindo-se o mercado brasileiro, pode-se adquirir a mesma miniaturização do modelo original de um concorrente da Hot Wheels e que retrata infinitamente melhor o AMC Javelin AMX 1971, com perfeição e riqueza de detalhes, inclusive adicionando à miniatura uma caixa de ferramentas de garagem amarela, na mesma escala 1:64, por um preço compatível ao praticado no mercado brasileiro. Estamos falando do modelo da Greenlight Collectibles (GC), como se vê da foto ao lado e que integra este artigo. Ele, o modelo da GC, no mercado americano, sai ao preço equivalente ao modelo da Hot Wheels aqui no Brasil. Aquele, diferente deste, é um item verdadeiramente colecionável, não apenas por ser uma edição limitada, a partir da própria sofisticação da embalagem do produto, ou por trazer uma identificação pormenorizada do modelo original, ou porque já vem com os pneus de borracha e a marca do fabricante neles impressa, ou porque traz os faróis e as lanternas pintados, ou porque retrata fielmente a versão original, mas por tudo isso e mais, por ser vendido pela bagatela de algo em torno de US$ 3.00 (três dólares), que convertidos hoje para a moeda nacional, praticamente valeriam os mesmos R$ 5,00 (cinco reais) pagos para as miniaturas da Hot Wheels, de qualidade explícita e notadamente bem inferior.
Tem justificativa? Claro que não!
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DURANGO KID

Título: Durango Kid (Durango Kid, 1956)
Elenco: Jim Lowery/Durango Kid (Charles Starrett), Nancy Winslow (Luana Walters), Mace Ballard (Kenneth MacDonald), Steve (Francis Walker), Ben Winslow (Forrest Taylor), Marshal Trayboe (Melvin Lang), Bob (Bob Nolan), Pat (Pat Brady), Sam Lowry (Frank LaRue)
Nº de episódios: 64

Introdução

DurangoKid30Acho que tinha uns dez para onze anos de idade quando pela primeira vez assisti pela TV a uma série sobre as aventuras de um cavaleiro negro com uma máscara que encobria parte de seu rosto, escondendo-lhe o nariz, a boca, parte das bochechas, o queixo e o pescoço. Tal cavaleiro montava um garanhão branco com um nome bastante sugestivo: “Corisco”. Para mim, na época, aquele cavalo rasgava as estradas das diligências e os atalhos mais íngremes com a mesma velocidade que atualmente fazem os carros de Fórmula 1 nas retas das pistas de corrida. O cavaleiro que o montava mais parecia uma entidade de outro mundo, chapéu e roupa preta de seda, portava uma arma, um revólver de seis tiros, e o sacava da sua cartucheira de couro com a mesma rapidez que o relâmpago risca os céus em prenúncio de tempestade. Aquele personagem era rapidíssimo no gatilho. Acertava qualquer alvo numa fração de segundos e desarmava bandidos e malfeitores com tiros sempre certeiros. Era uma verdadeira ameaça para os vilões e maus pistoleiros do velho oeste. Quem quer que tentasse cruzar ou impedir o seu caminho na busca incessante da verdade e da justiça a qualquer preço, terminaria na cadeia ou morto num tiroteio. O referenciado garanhão branco, que contrastava com aquele cavaleiro negro, era o sonho de qualquer adolescente na época, comparado aos dias de hoje com o sonho daqueles que completam 18 anos e não vêem a hora de receberem de presente o primeiro automóvel. Bons tempos aqueles, quando a televisão anunciava Durango Kid.

A Série

Naquela época eu ainda não me preocupava em saber quem era o ator por trás daquela máscara e que incorporava aquela entidade fantástica. Muito menos questionava alguns detalhes daquela produção de baixíssimo orçamento, que muitas vezes passavam despercebidos pelo meu senso de criança. Como exemplo, “onde é que ele esconde esse cavalo?”; “como ele pode trocar de roupa tão rapidamente e chegar sempre na hora de prender os bandidos ou evitar que a mocinha e Smiley sucumbam ante os malfeitores?”. O fato é que a série Durango Kid foi uma produção fantástica, típica, como todo “B-Western Serial” da época.

DurangoKid16Depois de algum tempo, crescido e ainda saudoso das aventuras daquele intrigante paladino da justiça, sequioso por rever as aventuras que marcaram a minha infância, pesquisei e fiquei sabendo que o ator privilegiado que interpretou aquele intrépido mascarado foi o falecido ator americano Charles Starrett. Starret nasceu em Athol, Massachusetts, EUA, precisamente no dia 28 de março de 1903. Era de família abastada e não tinha planos de entrar para a carreira de ator, muito menos de se tornar um dos grandes caubóis da história mundial do entretenimento. No começo da carreira dele, quando ainda estudante, alto, elegante e de físico privilegiado, Charles Starrett já era considerado uma das grandes atrações do time de futebol americano da sua faculdade, na Universidade de Darmouth, ou simplesmente, Darmouth College. De acordo com a história, o primeiro contato com o cinema foi bastante discreto, mas suficiente para despertar seu interesse, que foi ativado quando participou timidamente de uma produção cinematográfica de 1926. Foi convidado para fazer uma pequena ponta no filme O Campeonato do Amor (The Quarterback), juntamente com todo o time de futebol da universidade, que apareciam em várias cenas ao longo do filme. A partir daí, movido pelo entusiasmo e a novidade, aquele atleta percebeu que atuar era o que mais lhe aprazia, passando posteriormente para os palcos de teatro.

Todos têm conhecimento que a personagem Durango Kid foi a consagração de Charles Starrett. Pouca gente sabe, entretanto, que apesar de ter sido um dos principais responsáveis pelo sucesso da personagem e o primeiro a lhe dar a vida, Starrett não foi o único a interpretar aquele intrépido paladino da justiça na história do entretenimento. Durango Kid também foi interpretado e vivido por outros dois atores: Wally Cassel (no filme “Lei e Ordem”/”Law and Order” de 1953) e Joe Pantoliano (no filme feito para a tevê, “El Diablo” em 1990). Dados históricos e anotações de vários fãs americanos, estudiosos e especialistas no assunto, disponibilizados na Rede Mundial de Computadores, dão conta de que a primeira vez que se ouviu falar na personagem Durango Kid foi justamente no filme feito pelo próprio Starrett, numa produção do ano de 1940, chamada de “O Cavaleiro de Durango”/”The Durango Kid”. Posteriormente, o sucesso daquele filme se concretizaria com a produção de mais 64 (sessenta e quatro) longas em preto e branco, que compuseram a famosa série que passou na tevê. O curioso é que referidos episódios não foram feitos para a tevê, mas para o cinema e eram passados principalmente nas matinês. Todos os episódios da série chegaram a ser exibidos no Brasil, inclusive meu pai foi um dos que assistiu a quase todos os episódios, ainda no tempo das matinês de sábado no Brasil. Portanto, de acordo com registros incontestáveis do próprio estúdio, Starrett viveu o Durango Kid em 65 brilhantes oportunidades.

A carreira de Charles Starrett nem sempre foi um “mar de rosas”, como via de regra não é o início de carreira dos grandes artistas. Antes de encarnar a inesquecível personagem que iria lhe render toda a fama e o sucesso merecido, ele passou por inúmeras frustrações como ator, atuou para estúdios independentes e sem muita expressão, mas que lhe ajudaram a treinar e lapidaram o seu talento artístico, enriquecendo de certa forma todo o seu caminho rumo ao sucesso que iria ser reconhecido mais tarde. Ficou também muito tempo nos palcos de teatro, adquiriu muita maturidade na arte da interpretação, tudo seria somado ao seu perfil artístico. Atuou também em comédias, comédias românticas, alguns filmes de ação, tudo isso antes de atuar em bangue-bangues de sucesso e finalmente solidificar-se na série Durango Kid.

Primeiramente, Starrett assinou um contrato com a Paramount, atuando em seis filmes no período compreendido entre os anos de 1930 e 1932. Após a experiência na Paramount, quando teve a oportunidade de fazer o papel principal no filme da MGM, A Máscara de Fu Manchu (The Mask of Fu Manchu) em 1932 (com Boris Karloff), Starrett desanimou um pouco, mas soube que o estúdio da Columbia estava procurando um ator para substituir o grande ator Tim MacCoy para atuar nos filmes de bangue-bangue do estúdio. Nessa época, lembra DurangoKid05 Starrett, ao tomar conhecimento desse fato procurou incontinenti o estúdio e assinou o contrato. Disse que não queria ser estereotipado, mas que assinaria o contrato por dois anos. O sucesso de Starrett foi tão grande, que sempre que seu contrato estava para vencer, imediatamente o estúdio o procurava para uma renovação. Starrett não queria ser estereotipado como apenas mais um ator de filmes de bangue-bangue. Tentou atuar e fazer filmes de outros gêneros, mas não deu outra, pois o gênero de maior sucesso na época era o faroeste, que hoje caiu no ostracismo, lamentavelmente. Resultado: Starrett fez 131 filmes de faroeste “B” para a Columbia.

A época em que Charles Starrett começou a fazer papéis nos bangue-bangues e filmes de faroeste foi justamente a época de sucesso de outro grande nome: Gene Autry. Aquela era a época dos caubóis cantores. No entanto, por não saber cantar, os filmes de Starrett não refletiram o interesse do público naquele momento, o de ver um caubói cantando. Ele não cantava, mas o estúdio optou por acrescentar às suas películas um novo grupo, “The Sons of the Pioneers”, formado pelos músicos Bob Nolan, Tim Spencer, Hugh e Karl Farr e Len Slye. Este último, antes de se tornar uma das maiores celebridades do mundo, Roy Rogers. Além dos cantores- caubóis, outra mania da época dos faroestes consagrados era a figura do sidekick. Era o parceiro, normalmente uma pessoa hilária, atrapalhada e meio acovardada, que no entanto muitas vezes ajudava o mocinho a sair das situações mais embaraçosas, delicadas e complicadas. Quase sempre dosava tramas com toques de humor, que serviam para atender de certa forma aos órgãos censores da época. Tal fato ajudava a quebrar a tensão e contra-balanceava as cenas tidas como violentas e os enredos considerados pesados para o público infantil. Os sidekicks se destacavam pelos trejeitos e caretas, escorregões, fuga de namoradas solteironas, pelas vozes engraçadas, o jeito de cantar, enfim, tudo que a época permitia e que traduzia sempre a pureza e a ingenuidade temporal, completamente diferente do que presenciamos hoje nas novas séries e programas de TV.

Charles Starrett, na série Durango Kid, quase sempre era chamado de Steve “alguma coisa”. Com exceção de algumas oportunidades, como na produção de 1940 e de alguns episódios, inclusive o primeiro da série, O Retorno de Durango Kid (Return of the Durango Kid) (1945), cujo nome dado para o seu alter-ego foi o de Bill Bladen.

Smiley Burnette foi o mais marcante e o mais conhecido parceiro de Starrett, graças ao seu talento e uma história na indústria do entretenimento de causar inveja a qualquer outro ator. Burnette, também americano, nasceu no dia 18 de abril de 1911, em Sumner, Illinois. Sempre trabalhou com grandes nomes do faroeste, tais como Gene Autry, Sunset Carson, Roy Rogers, dentre outros.

Em 1945, o graduado dos seriados do estúdio da Mascot - um pequeno estúdio que chegou a produzir 24 seriados - o produtor Colbert Clark, que chegou a produzir uma série de sucesso mais ‘moderna’ de western Annie Oakley, em 1954, juntou-se à Columbia como o novo produtor dos filmes de faroeste de Charles Starrett. Inclusive, adicionou o cantor Tex Harding ao elenco dos filmes de Starrett, para substituir os grupos musicais convidados de costume. Colbert Clark então, decidiu reativar a personagem que o próprio Charles Starrett havia interpretado na referida produção de 1940, O Cavaleiro de Durango (The Durango Kid), e transformá-lo numa espécie de Robin Hood mascarado. Na série, o produtor Colbert Clark resolveu colocar ao lado de Starrett o referido cantor, Tex Harding, quando depois disso optou pela formação de um trio de atores, trazendo Dub Taylor para o elenco. Ainda sobre a famosa produção de Clark, Annie Oakley, tratava-se de uma série que tinha como atriz principal a bela Gail Davis, exímia atiradora que andava pelo velho oeste fazendo “shows” e ajudando o xerife local a restaurar a lei e a ordem. Gail Davis aparece no episódio clássico da série Durango Kid, em 1950, Rio Perdido (Trail of the Rustlers), em que existem duas pessoas agindo como o Durango Kid, um deles impostor.

Iniciada a série Durango Kid, o roteirista J. Benton Chaney, afortunadamente, e dando um toque todo especial ao personagem vestido de seda preta, sugeriu a inclusão da máscara negra nos figurinos de Starrett. Este, achou uma brilhante idéia e concordou plenamente com o item adicionado, que dava um certo ar de mistério e aterrorizava os bandidos que iria enfrentar.

A inclusão do item de fetiche que escondia parte do rosto de Starrett foi um estrondoso “frisson” no público e era um elemento indispensável para realçar a figura do seu alter-ego. DurangoKid08 Ilustre-se que a utilização do item máscara já havia sido popularizada em inúmeras personagens, principalmente na da personagem “O Zorro”, que foi criada por Johnston MacCulley, um escritor considerado medíocre, mas que de certa forma revolucionou o mundo do entretenimento ao introduzir a figura do alter-ego. A máscara, de uma maneira geral, foi apresentada ao público mundial praticamente graças ao intelecto e à visão de um dos maiores nomes da história inicial do entretenimento, o ator de filmes de aventura e também produtor, Douglas Fairbanks, máxime na bem-sucedida produção, A Marca do Zorro (The Mark of Zorro) (1920), baseada na personagem de “pulp fiction” criada pelo famoso escritor Johnston McCulley.

Em 1946, os atores adicionados por Colbert Clark saíram de cena para a estréia na série do famoso “sidekick”, Smiley Burnette, que não mais abandonaria Charles Starrett, acompanhando-o até o final de sua carreira artística. Famoso pelos papéis engraçados, pois sempre interpretava uma figura hilária nos episódios da série, Burnette, nos créditos dos filmes em que participava, antes de atuar ao lado de Starrett, era muitas vezes creditado como: George ‘Smiley’ Burnette, Lester ‘Smiley’ Burnette, ou simplesmente, Lester Burnette. Burnette era apelidado de “Ole Frog”.

A série Durango Kid começou com o episódio A Volta de Durango Kid (The Return of the Durango Kid), no ano de 1945, e iria durar cerca de sete temporadas inteiras. As produções foram concretizadas no período compreendido entre os anos de 1945 a 1952, com exatos 64 episódios, sendo o último episódio Depoimento Acusador (The Kid From Broken Gun).DurangoKid07

Como toda série produzida, altos e baixos também permearam sua história. Um dos ingredientes fundamentais que contribuiu para o sucesso de Durango Kid foi a colaboração do dublê (“stuntman”) Jock Mahoney (Jacques Mahoney ou Jack Mahoney), que substituiu Ted Mapes. Eles fizeram com que as cenas de lutas e perseguições ficassem mais interessantes e ousadas. Mahoney já era bastante conhecido como dublê e também ficou mais famoso por suas inúmeras participações em séries de western feitas para a TV nos anos 50 e mais ainda pelas curtíssimas séries: The Range Rider, de 1951 a 1953 e Yancy Derringer, de 1958 a 1959. Jock Mahoney vestiu a máscara negra de Durango Kid em incontáveis cenas de ação. Pela semelhante compleição física, o público dificilmente poderia perceber a diferença na troca durante as cenas mais perigosas.

Apenas para ilustrar, a série Range Rider era uma série de western de meia-hora voltada principalmente para o público infantil e mostrava as aventuras do mocinho vivido por Jock Mahoney e seu fiel companheiro Dick Jones, interpretado pelo ator Dick West. Já Yancy Derringer é também um “western” de meia-hora, mas sobre um cavalheiro refinado e também jogador profissional que havia acabado de retornar à Nova Orleans, após a Guerra Civil, e que pela necessidade e premência de oficiais do governo, tornou-se um agente secreto do Velho Oeste, trabalhando com o seu parceiro e fiel companheiro, o índio Pahoo-Ka-ta-Wha, para acabar com a corrupção e os malfeitores que atentavam contra a ordem pública e o estado de direito. Charles Starrett uma DurangoKid16 vez falou que sempre teve os melhores dublês e nunca deixou de asseverar a todos a fantástica contribuição que Jack Mahoney trouxe para aumentar o sucesso da série, indiscutivelmente.

Charles Starrett casou-se com Mary McKinnon em 1927, foi pai de gêmeos em 1929 e faleceu aos 82 anos de idade, precisamente no dia 22 de março de 1986 em Borrego Springs, Califórnia, EUA. Apesar dos implacáveis punhos do Durango Kid, Starrett lamentavelmente perdeu a luta final para um adversário ainda mais implacável, o câncer. Já havia deixado as telas há bastante tempo, no ano de 1952. Ao se aposentar, era um homem rico e mais ainda por haver herdado a Companhia de Ferramentas “Starrett”, ainda hoje uma das líderes do mercado mundial no ramo, tocada por seus descendentes. Starrett nasceu num mês de março e morreu igualmente num mês de março, uma característica bastante peculiar que somente ocorre com os grandes astros. “O Velho Durango”, apesar da sua condição financeira invejável, pois soube administrar como poucos tudo aquilo que ganhou na vida, foi sempre um ótimo exemplo de dignidade e de simplicidade. Seu corpo foi enterrado, mas o seu espírito permanecerá sempre na memória dos fãs e irá testemunhar a colheita de todos os frutos que nasceram e ainda nascerão das sementes por ele plantadas. Sua dignidade, seu talento e seu exemplo de vida jamais serão enterrados, pois seus fãs sempre darão testemunhos incontestáveis da sua vida e do seu talento por todas as gerações, mantendo sempre viva aquela entidade quase que surreal, mascarada e misteriosa, o Durango Kid.

DurangoKid14Assistir a algum episódio da série Durango Kid nos dias de hoje pela TV é impossível. Não há interesse das empresas nesse tipo de gênero. Também não é tarefa das mais fáceis a aquisição de boas cópias de episódios. As grandes empresas comerciais que vendem episódios da série, restringem-se a manter nas suas prateleiras, três, no máximo quatro títulos que foram lançados e que somente podem ser encontrados com o som original, sem legendas e sem as nostálgicas vozes da dublagem feita no Brasil. Quanto aos episódios dublados, apenas se consegue obter a preço de ouro das mãos de colecionadores brasileiros, cujas cópias muitas vezes deixam muito a desejar e são alteradas propositalmente com a inclusão do nome, telefone, endereço ou logomarca do colecionador. Principalmente no início e no final dos créditos, o que é um desrespeito para com os consumidores e fãs do gênero. Outras vezes, as cópias desses colecionadores foram mutiladas ou telecinadas, num processo bastante primitivo, sem a conservação ideal do rolo matricial.

Curiosidades

  • Antes de dar vida ao personagem Durango Kid, Charles Starrett foi testado pela Columbia para viver a personagem de um caubói médico.
  • Charles Starrett e Smiley Burnette começaram a trabalhar juntos, ambos com o pé esquerdo, pois na primeira participação da dupla não havia aquela química tão necessária às duplas. O clima não era muito amistoso entre os atores, talvez pela franqueza de Smiley Burnette, que muitas vezes falava o que pensava sem a preocupação de agradar ou ferir quem quer que fosse. Com o tempo e a convivência, os atores aprenderam a se respeitar mutuamente e colocaram as vaidades de lado, firmando um pacto de compromisso para o bem e o sucesso da série Durango Kid, terminando como bons amigos fora do estúdio.
  • A série Durango Kid foi feita especialmente para a telona, na categoria de filmes de western na categoria "B". Eram produções de baixíssimo orçamento na época.Posteriormente, com a massificação da tevê, os filmes passaram na telinha.
  • Starrett fez 131 B-Westerns para a Columbia entre 1935 (começando por GALLANT DEFENDER) e 1952 (seu último foi KID FROM BROKEN GUN), tratou-se de um recorde na época, considerando a longevidade e a quantidade de produções para uma estrela do western em apenas um único estúdio. Entre 1937-1952, Starrett sempre esteve entre os dez mais bem-sucedidos financeiramente do gênero western. Isso só não ocorreu no ano de 1943.
  • Antes de Jock (Jack) Mahoney, o dublê que fazia as cenas de perigo no lugar de Starrett, encarnando o Durango Kid, era o dublê Ted Mapes, que não era tão ágil e tão bom quanto seu sucessor.
  • Milhares de colecionadores de filmes e vídeos ainda nutrem a esperança de verem seus raros acervos da filmografia de Starrett completos um dia, pois muitos filmes estrelados por ele ainda se encontram literalmente trancados a sete chaves nos estúdios da Columbia. Somente alguns filmes foram ao ar pela televisão e através dos canais americanos "Movie Channel" e "Western Channel". Muita coisa ainda está inédita na telinha, o que é uma pena e com certeza deixa os fãs com água na boca.
  • Perguntado um dia se não estava arrependido de ter tido seu nome sempre associado à figura do personagem Durango Kid, Charles Statrrett respondeu: "Como eu poderia me arrepender disso? Antes de interpretar o Durango Kid eu percorri um longo caminho. Interpretá-lo foi uma boa fonte de lucro. Ademais, isso só me fez bem!"
  • Os últimos filmes da série Durango Kid foram editados com cenas emprestadas de outros filmes da própria série. As duas justificativas para isso repousam nos fatos de que eram necessários para compensar o tempo perdido e para economizar dinheiro.
  • Uma das últimas exibições de Durango Kid no Brasil foi pela TV Pampa de Porto Alegre/RS em 1984. Na época a emissora era afiliada da Rede Manchete.
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TARZAN

tarzan-logo

Título: Tarzan (Tarzan/1966-68/BRA-MEX/Cor)
Criação:
Edgar Rice Burroughs
Produtor Executivo: Sy Weintraub
Elenco: Ron Ely (Tarzan), Manuel Padilla Jr. (Jai), Alan Caillou (Jason Flood), Rockne Tarkington (Tao)
Produtora: Banner Productions/Warner Bros.
Formato: 57 episódios de 47 minutos em 2 temporadas
Dublagem: Herbert Richers

Introdução

Tarzan02Se alguém pedisse para eu nominar um ator de série de tevê que realmente fez jus ao seu salário, recusou-se a ser substituído por dublês nas cenas mais perigosas e teve coragem de trabalhar praticamente semi-nu, sem pestanejar eu responderia: Ron Ely, na série Tarzan!

Essa foi a primeira produção televisiva do personagem e estreou nos EUA em setembro de 1966. Lamentavelmente, saiu do ar dois anos depois. O atlético ator de 1,90 m de altura, na verdade, um texano batizado Ronald Pierce, nascido aos 21 de junho de 1938, foi o grande responsável pelo estrondoso sucesso do personagem na telinha. Ron Ely, ainda sem sonhar que um dia imortalizaria o personagem na televisão, sempre foi um homem perseverante e disciplinado na busca da concretização de seus objetivos.

Matriculou-se na Universidade do Texas, mas logo se mudou para a Califórnia. Após assinar contrato com a 20th Century Fox no final dos anos 50, Ely interpretou pequenos papéis coadjuvantes e inexpressivos em diversas séries de tevê, como How to Marry a Millionaire (1957/59, com Merry Anders, Barbara Eden e Lori Nelson), e em filmes como "South Pacific" e "The Remarkable Mr. Pennypacker".

Em 1960, Ely foi escalado no elenco de uma série de tevê da CBS, chamada The Aquanauts (1960/61), que não se confunde com a série Sea Hunt ("Caçada Submarina"), também estrelada por Ely em 1987 (Sea Hunt foi uma versão moderna da série de mesmo nome, anos antes estrelada por Lloyd Bridges entre 1957 e 1961).

The Aquanauts foi cancelada após uma única temporada, mas sem desanimar, o ator continuou perseguindo o merecido reconhecimento profissional em vários outros filmes. Sua maior oportunidade ainda estaria por vir no ano de 1966, quando foi escalado no papel principal de Tarzan, na série de tevê de mesmo nome.

Ron Ely já havia tentado o papel de Tarzan na telona, logo após Jock Mahoney ("The Range Rider" e "Yancy Derringer") ter abandonado o papel em 1963. Porém, acabou perdendo a oportunidade para o jogador de futebol americano e ator Mike Henry, que já havia feito três filmes como Tarzan e foi inicialmente cogitado para a série de tevê. Mas Henry recusou o papel devido algumas desagradáveis experiências ocorridas enquanto filmava seu primeiro filme como Tarzan. Com a desistência de Mike Henry, então, a porta do sucesso se abriu e Ron Ely foi escalado para o tão cobiçado papel principal. "A tevê necessita de sex symbols, e Ron tem todos os atributos para isso", disse Sy Weintraub.tarzan-materia2

Ron Ely foi o décimo quarto ator a interpretar Tarzan, desde a primeira aparição do personagem a meio século antes, no filme mudo "Tarzan dos Macacos" (Tarzan of the Apes, 1918).

Após inúmeras frustrações na tentativa de se criar a série de tevê Tarzan, o produtor Sy Weintraub finalmente pôde levar o personagem para a telinha em 1966. Tarzan, como já mencionamos, foi ao ar pela NBC nos EUA, entretendo os lares norte-americanos a partir da primeira quinzena de setembro de 1966, prolongando-se até abril de 1968. Foram produzidos 57 selvagens episódios de 47 minutos cada. Na série para a tevê não havia a personagem Jane, mas sim, a chimpanzé Chita, que foi seu elemento humorístico.

A título de curiosidade, a outra série na tevê americana que era exibida pela NBC após o término de Tarzan era Jornada nas Estrelas.

Acidentes e Perseverança

Tarzan06Como dissemos, Ely recusou-se em ser substituído por dublês nas cenas mais perigosas, como combates corporais com animais selvagens, locomoção, travessias de pântanos utilizando-se apenas de cipós, pulos e mergulhos de altíssimas cachoeiras. Mas estas cenas de ação e aventura de Ron Ely exigiam demais de seu físico avantajado. As situações de perigo eram gravadas como se o ator tivesse com o corpo tomado, possesso por alguma força inimaginável e jamais vista. Muitas vezes ele atuava sentindo terríveis dores, quase que insuportáveis, advindas das conseqüências dos momentos de tensão e de ação exigidos pelos diretores. Mas nunca deixou de asseverar: "Tarzan é o papel que venho esperando a vida toda". O diretor James Komack, numa entrevista dada para a revista TV Guide, disse certa vez ter ouvido de Ron Ely a seguinte frase: "Essa é a minha grande chance. Eu nunca tive um papel de destaque. Eu nunca estive numa série de qualidade. É uma boa sensação, tão boa que, de certo modo, custo muito a acreditar que me machucarei seriamente".

A palavra "seriamente" era utilizada de forma muito subjetiva por Ron Ely. Na verdade, freqüentes suturas múltiplas, costumeiros pontos no corpo todo, ossos quebrados constantemente e músculos repetidas vezes distendidos era o que mais se via no ator. Não só para mim, mas para qualquer pessoa em sã consciência, tais conseqüências podem traduzir realmente graves ferimentos e terríveis machucados.

Os danos e as lesões provocadas nas intensas cenas de ação na série, foram os motivos que fizeram com que o ator Mike Henry desistisse do papel, a ter que encarar os desafios verdadeiramente experimentados por Ron Ely. No caso de Mike Henry, num dos filmes encarnando ao personagem Tarzan, um chimpanzé, que deveria dar um beijo inocente e sem nenhuma conseqüência no ator cinematográfico, arrancou-lhe um pedaço do queixo, proporcionando-lhe 18 pontos no local. O fato motivou seu pedido de demissão e o manejo de uma ação de danos contra os produtores cinematográficos na cifra de 875 mil dólares.

Mas esses "detalhes" jamais abalaram Ron Ely. Com ele, um puma, que é uma onça amarelo-avermelhada, conhecida no Brasil pelo nome de suçuarana, infligiu-lhe uma terrível cicatriz no calcanhar. Ademais, um leopardo rasgou-lhe a perna esquerda e um leão mordeu-lhe a fronte (pegou cinco pontos no local), arrastando o ator pelos pés por vários metros. Ely ganhou diversos ferimentos, mas admitiu: "É uma questão de honra. Eu realmente acredito que posso dominar esses animais".

E não foi só isso. Ron Ely, certa vez, lesionou o nervo da coluna cervical, pinçando-o em virtudetarzan-materia4 da protusão do disco causada pela força compressiva no pescoço, enquanto carregava um ator e um bote afundado ao mesmo tempo. Também machucou o rosto e queimou os braços e as pernas enquanto atravessava um corredor estreitíssimo repleto de chamas flamejantes. Outra vez, Ron Ely deixou escapar o cipó numa de suas travessias por entre as árvores durante uma seqüência, caindo de uma altura de mais ou menos 10 metros. Sua cabeça e ombro foram os amortecedores do impacto do corpo, que caiu inconsciente. "Na verdade, eu fiquei constrangido", disse numa entrevista. "Eu quis levantar e mostrar à multidão de espectadores que se encontrava no local que tudo estava bem. Eu ainda guardo a lembrança da queda e da aproximação da minha cabeça até o solo. É uma péssima lembrança". Obviamente que a necessária cirurgia para reposicionar o ombro deslocado não foi tão agradável, mas os produtores mostraram seu pragmatismo salvando a cena e rescrevendo-a para incluir Tarzan, do alto, levando um tiro certeiro de um ladrão.

Por conta de prejuízos e danos como esses, Ron Ely teve garantida uma apólice de seguro no valor de 3 milhões de dólares, pagos pela produção. Mas outros envolvidos na série de tevê também sofreram algumas situações inusitadas e foram vítimas das circunstâncias. Um elefante treinado usado na série, certa vez enfureceu-se na locação e antes de ser baleado, atacou uma mulher, uma criança e esmagou o treinador causando-lhe a morte. E um garoto de 10 anos de idade levou uma mordida de Vickie, o verdadeiro nome do chimpanzé que fazia o papel da macaca Chita, devido a uma crise de ciúmes a que foi acometida ao observar Ron Ely contracenando com o garoto.

O diretor Komack lembra de como, certa vez, Ron Ely apareceu na locação da série com um ligamento lesionado. Sua perna estava toda escura por conta do rompimento dos vasos sangüíneos no local. O ator insistiu que podia trabalhar e pediu ao maquilador que cobrisse a descoloração da perna com maquilagem. Mesmo correndo o risco da coagulação vir a matá-lo se fosse para seus pulmões, Ron Ely, ainda assim, pediu ao médico que lhe desse uma injeção contendo um agente anticoagulante. Tudo isso quis dizer, é claro, que se ele se cortasse durante a filmagem, poderia facilmente sangrar até a morte. "Por que ele fez isso?", Komack escreveu. "Porque Tarzan assim o faria. E Ron Ely é Tarzan".

E essa não foi uma observação isolada do diretor. Uma outra observação no mesmo sentido também veio do próprio Ron Ely. "Se é algo que eu sinto que posso fazer, eu devo fazer sozinho", disse Ely. "Não é bom vender algo que não seja verdade. Eu quero fazer com que o telespectador acredite que eu sou Tarzan". E Ron Ely realmente convenceu, não obstante as escoriações, os hematomas, os tombos, as fraturas, os cortes, os machucados e os inúmeros riscos à sua integridade física e à própria vida. Um ator extremamente profissional, preocupado com o respeito e a opinião de seus fãs e dos envolvidos nas filmagens.

A Série

tarzan-materia3Tal qual os filmes do Homem-Macaco, a série feita para a tevê manteve no seu elenco Tarzan, nascido Lorde Greystoke, mas que preferiu a vida na selva.

Quando criança, Tarzan era chamado de John Clayton III, ou Lorde Greystoke. Certa vez, perdeu-se de seus pais numa floresta, onde foi encontrado e criado pelos grandes macacos. O menino recebeu o nome de Tarzan, que significa "Pele Branca". Mais tarde, voltou para a civilização, onde foi educado, mas acabou voltando para a selva que ele conhecia tão bem, onde lutaria pela lei do direito. A onça passou a conhecer alguém mais ágil que ela e o leão, a conhecer alguém mais corajoso.

O grito de Tarzan é conhecido por todas as criaturas da selva. Ao ouvi-lo, o antílope sabe que está a salvo, o leão pára,e o crocodilo busca a segurança da água e o elefante vem até o seu amigo.

Na série também estrelam Manuel Padilla, Jr., como Jai, o garoto auxiliar de Tarzan, que a exemplo do próprio Tarzan, era um órfão da selva; a macaca Chita (Vickie); Alan Caillou como Jason Flood, tutor de Jai; e Rockne Tarkington como Rao, um veterinário. A série foi produzida pela companhia Banner Productions e teve locações filmadas no Brasil e no México.

Gravações

Tarzan16Os primeiros episódios de Tarzan foram filmados no Brasil e os demais no México. As gravações das primeiras aventuras foram caóticas devido a chegada da temporada de chuvas na América do Sul. Ainda assim, foram possíveis tomadas importantes como de Tarzan nas Cataratas do Iguaçu e na tripla fronteira da Argentina, Paraguai e Brasil. O produtor da série - Weintraub - disse na ocasião: "Essas cataratas convertem as do Niágara numa gota de água. Não há nada que se compare. Os espectadores irão apreciar".

Entretanto, as difíceis condicões de gravação, a presença de disenteria, mosquitos e pragas, desmoralizavam qualquer um, além de provocar mais gastos do que o previsto. Depois de vários meses, apenas cinco episódios haviam sido gravados e o orçamento de 450 mil dólares já estava quase acabando.

Nas últimas cenas filmadas no Brasil, com Ely correndo por um set que devia pegar fogo, foram satisfatórias para todos, menos para o própio Ely, que teve queimaduras nos braços e pernas. Mas as aguentou heróicamente e não se quixou de nada, já que ele mesmo queria fazer suas própias cenas de risco, sem dublês. Logo depois, Weintraub mudou as gravações para o México.

Curiosidades

Na tevê americana, pela Rede NBC, Tarzan era exibido nas noites de sexta-feira, às 19h, e competia diretamente com a série de faroeste James West da CBS e com Off to See the Wizard na ABC. Não recordo quando assisti a Tarzan pela primeira vez, nem ao menos o canal da tevê brasileira que inicialmente levou a série ao ar, mas recordo inúmeros episódios e a presença de alguns atores brasileiros, tais como José Lewgoy e Mílton Gonçalves, dentre outros que atuavam como figurantes. Numa atitude assaz ignóbil dos produtores, pelo menos os que tinham uma participação mais marcante não tinham seus nomes creditados nos episódios.

Uma estória que marcou a minha infância foi o episódio de duas partes "Silêncio Mortal" (The Deadly Silence), sendo inesquecível o final da primeira parte, quando Tarzan, submerso num rio, é impiedosamente bombardeado por inimigos e perde temporariamente a audição.

Quando criança, eu costumava imitar a marcha de Tarzan, sibilando a inesquecível composição musical que tinha na sua condução o maestro Walter Greene. A orquestra era a de Emil Cadkin e a marcha de Tarzan atribuída ao mago Sydney Lee, característica marcante quando das cenas de ação.

Muitos atores de renome e celebridades participaram dos episódios de Tarzan. Diana Ross fez uma irmã da igreja que retorna a sua aldeia para construir um hospital e catequizar os seus.

Ron Ely, hoje em dia, dedica-se a escrever novelas de mistérios, obtendo grande sucesso como escritor.

tarzan-materia5Nos últimos anos, revi Tarzan dublado no canal por assinatura Warner Channel. Até o fim de 2005, pudemos rever os episódios pelo canal Retro, mas somente disponibilizados com legendas, sem a inesquecível dublagem original.

A Media Enterprises lançou todos os 57 episódios da série numa coleção de 28 DVDs. O idioma é o original em inglês, sem legendas. Somente localizei a venda através de lojas virtuais estrangeiras.

A lenda de Tarzan se diferencia das lendas da antiguidade, pois estár relacionada ao imperialismo inglês na África: um lorde inglês branco se perde na selva e, crescido, se torna "rei da selva" africana; Tarzan tem mais relações com os macacos do que com os povos nativos da África; e finalmente, Tarzan se casa com Jane, uma norte-americana de modos aristocráticos, para assim continuar a linhagem branca no domínio do continente africano.

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OS INVASORES

Título: Os Invasores (The Invaders/1967/Cor/EUA)
Criação:
Lawrence G. Cohen
Elenco: Roy Thinnes (David Vincent), Kent Smith (Edgar Scoville). Participações: Suzanne Pleshette (Vicki), Edward Andrews (Mark Evans), Lin McCarthy (Fellows), Roy Jenson (Roy Jenson), Rodolfo Hoyos (Miguel), Val Avery (Manager), William Stevens (Cobbs), Ted Gehring (Cabbie), Tina Menard (Mama), Tony Davis (Boy), Roberto Contreras, Pedro Regas (Beggar)
Produção: Quinn Martin
 
Direção:
Paul Wendkos
Música: Dominic Frontiere
Formato: 43 episódios de 50 minutos, em 2 temporadas + mini-série "reunion" (1995), com 4h de duração, dividida em 2 partes
Distribuição: TV Interamericana do Brasil
Dublagem: TV Cine-Som/RJ
 
Introdução
 
"Como começa um pesadelo? Para David Vincent, um arquiteto que voltava para casa de umaInvasores02 viagem de negócios, o pesadelo começou alguns minutos depois das 4h, em uma madrugada de terça-feira. Ele procurava um atalho que nunca foi encontrado. Tudo começou com um cartaz de boas-vindas e a esperança de tomar um café. Tudo começou com um bar fechado e deserto e um homem cansado demais para poder continuar uma viagem. Nas próximas semanas, David Vincent voltará ao lugar onde tudo começou".
Com um fundo musical de dar arrepios, assinado pelo mestre Dominic Frontiere, e o cenário de uma localidade deserta, escura, abandonada, percorrida por um Ford Sedan prateado, com teto de vinil branco (um automóvel lindíssimo que lembra o Galaxie) dirigido por um ator até então desconhecido, começava o episódio "Beachhead" (Cabeça de Praia), levado ao ar pela Rede ABC, no dia 10 de janeiro de 1967. Era o episódio-piloto da série Os Invasores, distribuída e apresentada pela TV Interamericana do Brasil, cuja memorável e inesquecível versão brasileira, havia ficado ao cargo da competentíssima TV Cine-Som do Rio de Janeiro. Começava a fantástica saga de David Vincent, um homem comum, um arquiteto bem-sucedido, que de forma inusitada, ao presenciar e testemunhar a aterrissagem de um disco voador, mudaria totalmente a sua vida. Por exatos 43 episódios, David Vincent passaria a ter dois únicos objetivos na vida: de forma desesperada, tentaria evitar os planos de invasão da Terra e procuraria um meio de convencer um mundo descrente de que o "pesadelo já havia começado".
De que os invasores - seres de um planeta que estava para ser extinto - já se encontravam entre nós, haviam tomado a forma humana e tinham iminentes planos de invasão em massa para "fazer da Terra o seu mundo".
 
Apesar de se confundirem com a aparência humana, os invasores não tem pulsação, não apresentam batidas cardíacas, não possuem sangue nas veias e alguns apresentam uma notável deformidade no quarto dedo das mãos, causada por um erro de cálculo no processo de mutação para a forma humana. Após algum tempo na forma humana, precisam se regenerar em tubos gigantescos movidos por geradores potentíssimos de tecnologia alienígena e brilham incandescentemente antes de morrer, quando são pulverizados sem deixar rastros ou sinais de suas presenças na forma humana. A série durou apenas duas temporadas.
 
A Série
Como explicar o fato de que uma série de tamanho sucesso como Os Invasores, originalíssima e tão bem produzida, tenha encontrado seu desfecho após o seu segundo ano incompleto? Há quem diga que a série foi fadada a tão pouco tempo, por haver sido idealizada e creditada como uma série de ficção científica, quando na verdade, estruturalmente, não passava de um maravilhoso drama, direto e objetivo.
 
Invasores01Os Invasores, segundo a crítica especializada, pegou uma pequeníssima carona na idéia original da conhecida produção cinematográfica "Vampiros de Almas" (Invasion of the Body Snatchers - EUA/1956), com Kevin McCarthy e Dana Wynter, dirigida pelo fabuloso Don Siegel. Tal idéia não pôde ter sido deixada de lado, pois os próprios atores do clássico cinematográfico, Kevin McCarthy e Dana Wynter, reapareceriam mais tarde em dois episódios diferentes da série televisiva, respectivamente "The Watchers" (Os Espiões) e "The Captive" (O Cativo). Na verdade, não podemos conceber que a idéia original da série televisiva tenha sido plagiada ou copiada de forma acintosa. Muito pelo contrário: qual série de ficção científica não traz os elementos essenciais como os que Os Invasores traziam? Medo da iminente ameaça de invasão, seres assassinos de outro planeta, carros portentosos, muita ação e efeitos especiais. Aliás, até que Os Invasores se diferenciava das demais séries de ficção científica, já que aqueles dois últimos requisitos eram os que menos importavam para o público fiel, que se apaixonou pela concepção original e primeira da série, a busca incessante de um homem por seres de outro planeta, um homem comum, sem super poderes e que vivia um isolacionismo sem precedentes. É uma série de episódios que compõem uma trama centrada numa personagem inicialmente tida como um lunático pela opinião pública. Um arquiteto que é motivo de chacota em todo lugar que aparece, mas que representa o que parece ser a única tábua de salvação para uma humanidade descrente. A personagem solitária enfrenta uma raça de seres invasores que objetivam o domínio pleno do mundo terreno. Objetivamente, essa é a concepção inicial do criador da série, o escritor, produtor e diretor, Lawrence G. Cohen. O ator protagonista, Roy Thinnes, como ninguém mais, a compreendia muito bem. Para eles, Larry Cohen e Roy Thinnes, os efeitos especiais eram de certa forma irrelevantes e não conseguiriam superar uma boa trama ou um roteiro incrivelmente bem elaborado como os que contribuíram para o sucesso da série na primeira temporada, indiscutivelmente.
 
Numa entrevista concedida, quando do lançamento da produção da mini-série, "The Invaders" (Os Invasores - 1995/EUA), que traz no papel principal a estrela Scott Bakula - que também havia sido o protagonista de uma outra série televisiva de ficção científica, a inteligente Quantum Leap, Roy Thinnes - que também fez uma ponta discreta ainda no papel do próprio arquiteto David Vincent, revivendo a polêmica personagem dos idos anos 60, asseverou com a propriedade e a autoridade que ainda hoje lhe são peculiares:
"Os Invasores é uma série diferente das séries comuns tipo Jornada Nas Estrelas ou Buck Rogers, pois há pouquíssimos efeitos especiais. São estórias de pessoas. Os alienígenas se pareciam exatamente como nós, portanto não havia a necessidade de efeitos especiais ou de toda aquela coisa incomum e cara. Resumia-se em produzir boas estórias, tão somente."
 
O fato é que os homens da Rede ABC, que produzia e detinha os direitos de transmissão da série na época, queriam na verdade uma série de ação e ficção científica e Os Invasores não pareciam ser o que eles tinham em mente. Roy Thinnes um dia confidenciou que após o término da primeira temporada, a rede havia exigido mais ação e visual, porque, segundo eles, era o que os telespectadores procuravam. Thinnes, lembrando do fato, após o término da série, há alguns anos, de forma sarcástica e em tom de crítica, alfinetou:
saucer"Bem, não é só isso que os telespectadores querem ou buscam. O que eles querem realmente é um maior envolvimento com as personagens que eles de alguma maneira se identificam ou se preocupam. A segunda temporada da série foi um tanto quanto desastrosa quando acrescentou ao programa uma série de perseguições e começou a dar cobertura a muitas personagens. Era muito território para cobrir efetivamente e foi uma despedida do estudo do isolacionismo de um homem, do medo e da paranóia, que haviam sido o centro do programa na primeira temporada".
 
Os Invasores é uma série bastante imaginativa e inventiva. Ao seu final, o paranóico David Vincent jamais conseguiu atingir o seu objetivo, mesmo na curtíssima segunda e última temporada, quando associou-se a um grupo de pessoas que também acreditavam piamente na existência dos invasores e trabalhavam em grupo para destruir os temidos planos de invasão alienígena. O grupo dos que acreditavam tinha como um dos membros mais importantes, o renomado homem de negócios, milionário e bastante respeitado, Edgar Scoville, na realidade o ator Kent Smith.
 
A verdade é que David Vincent jamais conseguiu dissipar suas próprias dúvidas e medos ou até mesmo convencer alguém dos perigos que a população estava na iminência de enfrentar. Por outro lado, os seres de outro planeta e os mutantes também jamais conseguiram destruir David Vincent, o único que poderia realmente os expor.
 
A versão de 1995, também intitulada Os Invasores, que foi uma produção no formato de uma mini-série, dividida em duas partes, com quatro horas de duração cada. Foi produzida para a tevê, mais parecendo uma reunion. Nela, o público ficou sabendo que David Vincent, vivido pelo próprio Thinnes, ainda continuava na sua solitária cruzada contra os invasores, apesar do lapso de tempo entre o último episódio da série e a nova mini produção. David Vincent ainda viajava pelas regiões interioranas, nutrindo e alimentando a sua obsessão de localizar os invasores e frustrar-lhes os planos de invasão. Tudo isso três décadas após o cancelamento da série original de 43 episódios.
 
Criadores: Larry Cohen
O criador da série, Lawrence G. Cohen, ou simplesmente, Larry Cohen, nasceu aos 15 de julho de 1938, em Nova York, onde também foi educador. Trabalhou em várias produções do executivo Quinn Martin, inclusive como o escritor da série: O Fugitivo.
 
Dominic Frontiere
A trilha sonora e a abertura de Os Invasores foi confiada ao talentosíssimo compositor Dominic Frontiere, que nasceu aos 17 de junho de 1931, em New Haven, Connecticut, EUA, também conhecido pelas aberturas inesquecíveis das séries O Marcado (Branded - 1965), A Noviça Voadora (The Flying Nun - 1967), Vegas (1978), a produção televisiva "A Marca do Zorro" (The Mark of Zorro - 1974), com Frank Langella e Ricardo Montalban, dentre inúmeros outros relevantes trabalhos.
 
Atores: Roy Thinnes
The_Invaders_Roy_Thinnes_1966Roy Thinnes é o protagonista da série, fazendo o papel do arquiteto David Vincent. Nasceu no dia 06 de abril de 1938, em Chicago, Illinois, EUA. Na verdade, jamais havia passado pela sua cabeça tornar-se um ator, mas sim um médico ou jogador de futebol americano, ou ambos, segundo fontes mais próximas do artista. Roy Thinnes começou a trabalhar numa emissora de rádio, onde fazia de tudo. Trabalhava na engenharia do som, fazia "shows" como DJ, lia as notícias diárias e fazia dramatizações no rádio, daí surgindo seu interesse pela arte de interpretar e atuar. Quando deixou o exército, dirigiu-se para Nova York e depois para a Califórnia, onde começou a trabalhar fazendo participações em programas de séries de tevê. Enfrentou momentos difíceis na sua carreira. Chegou a trabalhar como recepcionista de um hotel, vendedor de vitaminas e fotocopiador, até chegar a interpretar o famoso arquiteto. Em seguida, casou-se com sua primeira mulher, a também atriz, Lynn Loring, que também atuou com ele na série Os Invasores, especificamente no episódio chamado "Panic" (Pânico), no papel de Madeline Flagg. Juntos também trabalharam no cultíssimo filme de ficção científica "Journey To The Far Side of The Sun". Separou-se de Lynn Loring em 1984. A mais recente aparição de Roy Thinnes foi justamente em uma outra série de bastante sucesso, Arquivo X (The X-Files), que o colocou novamente na linha de frente de uma produção de sucesso. Ele já havia feito na aludida série o papel de um alienígena, o enigmático Jeremiah Smith em 1993. Esse mesmo papel foi completamente revirado e mais uma vez Chris Carter, o criador da série Arquivo X, o chamou para reviver a personagem Jeremiah Smith, fazendo sua mais recente participação no dia 25 de fevereiro de 2001, no episódio chamado "This Can't Be Happening" (Isso Não Pode Estar Acontecendo).
 
Análise
 
Uma visão sociológica de "Os Invasores"
the_invadersApesar de uma ficção, a produção da série não perdeu a oportunidade de enfocar as mazelas da sociedade americana, dando um ar de realismo nas eletrizantes tramas elaboradas em seus episódios. A cada dia, David Vincent visita um estado americano, sempre procurando pelos invasores. Trata-se de um arquiteto "vagabundo", pois nessas viagens, pouco tempo lhe resta para desempenhar sua verdadeira profissão. Na realidade, na obsessão de provar a existência de alienígenas na Terra para um mundo descrente, David Vincent é um solitário, isolacionado da sociedade e também um intruso invasor dos lares de famílias, escritórios militares ou grandes companhias de jornais. Como invasor na vida de muitos, David Vincent não parece atingir o objetivo primeiro, que é o de revelar à humanidade que os invasores já estão entre nós. Mas de certa forma, com a sua presença e as virulentas suspeitas que levanta sobre quem quer que fosse, ele acaba por conscientizar as pessoas de seus próprios problemas e contribui de alguma maneira para que alguém retome o seu rumo, para que alguns poucos envolvidos na trama endireitem suas vidas. Questões de patriotismo, de dever cívico, lealdade familiar e valores pessoais são atingidos dentro de uma atmosfera de paranóia sufocante. Graves erros de julgamento são de repente transformados na vida das pessoas, que aprendem a melhorar, a ser melhores com a mesma velocidade desenvolvida pelo disco voador invasor. Ao longo da série, o próprio David Vincent vivencia uma dualidade. Ele é tido como um lunático para muitos e também se transforma numa celebridade, numa autoridade respeitada em discos voadores para tantos outros.
 
Quando os invasores tomam a forma humana, em qualquer tempo ou idade, o disfarce mais comum é o de homens de negócios bem-sucedidos, vestidos conservadoramente de terno e gravata, muitas vezes carregando pastas ou valises, sempre acompanhados de pessoas vestidas igualmente de terno e gravata e dirigindo um imponente Ford Sedan escuro.
 
A descrição desses invasores é muito parecida com as do fenômeno dos Homens de Preto, que até virou comédia num filme feito para o cinema e faz parte do folclore dos OVNIS que remontam os anos 50. Lendas urbanas dão conta de que as pessoas que reportavam qualquer presença alienígena, ou contato de terceiro grau, eram interrogadas por homens vestidos de terno preto, que representavam misteriosos grupos partidários com um forte interesse em espaçonaves e que desapareciam com a mesma velocidade com que surgiam.
O utilitário utilizado pelos invasores não foi apenas uma obra de ficção do criador Larry Cohen. A nave espacial, que possui uma cabine interna, externamente lembra um chapéu e possui uma base com um hemisfério brilhante. Tal espaçonave corresponde exatamente aos discos que eram descritos pelo guru dos OVNIS, George Adamski, que afirmava veementemente que já havia dado muitas voltas a bordo desses OVNIS, muito antes da sua concepção televisiva na série.
 
Não foi apenas uma vez ao longo da trama que os invasores mostraram seres sempre uniformizados, sem nenhum sentimento ou emoção e que recebiam treinamento através de manipulação, onde eram expostos a motivações e respostas, dentro de um centro de treinamento próprio que se prestava única e exclusivamente para orientá-los sobre o comportamento humano. Tais centros mais pareciam locais de concentração e mostravam com propriedade o mundo como os poderosos e os controladores o querem, homens obedientes e somente expostos a aquilo que os convêm, sem questionamentos e sem levantar dúvidas ou questionamentos sobre isso ou aquilo outro.
 
invadersflyingsaucer_simonmercsPor esses e outros aspectos, Os Invasores se transformou numa série cult dos anos 60 e somente foi finalizada de modo prematuro por causa de uma visão "quadrada", comercial e incompreensível de seus produtores, fato esse que ainda hoje acontece em muitas produções interessantes. As atuais séries de ficção científica parecem preferir vender efeitos especiais e atores medíocres com aparência de bonecos e manequins, a investir em estórias e tramas bem elaboradas, que edifiquem o pensamento humano ou que dramatizem a vida como ela é realmente, sem segredos e mistérios, expondo as mazelas e os problemas sociais vistos sob um prisma filosófico. O medo desses poderosos é realmente justificável, pois a partir do momento em que o homem tiver a sua mente aberta e obtiver uma visão ampla da sua existência, do seu potencial e do seu intelecto, o panorama que aí está irá mudar radicalmente e o mundo poderá finalmente livrar-se do fantasma dos invasores, principalmente dos invasores da mente, aqueles que só objetivam atrofiar o cérebro humano e minar todas as tentativas de fuga para uma dimensão intelectual mais digna e mais compatível com a espécie humana.
 
No Brasil
Os Invasores chegou a ser exibido pelas TVs Record e Bandeirantes, nos anos 70 e 80. Foi ao ar pela última vez em 1995, pelo canal pago Teleuno. Sediado no México, o canal pertencia ao grupo Spelling Entertainment Inc. e foi vendido em 1998 para a Sony Pictures, dando lugar ao atual AXN. O Teleuno, especializado em filmes, séries e desenhos, felizmente exibiu Os Invasores com a dublagem original brasileira.
 
Curiosidades
  • Na versão original em inglês, o ator William Conrad foi o narrador invisível da série, pelo menos nos créditos iniciais, como também na maioria das séries produzidas por Quinn Martin.
  • Embora tenha sido uma série antológica com apenas uma estrela principal, o ator Roy Thinnes, muitos outros atores apareceram em mais de um episódio, interpretando diferentes personagens. Num episódio, considerado raro pela época em que foi ao ar, "The Vise" (O Torno), todo o elenco era de atores negros, com exceção de Roy Thinnes e Kent Smith.
  • A série é bastante cultuada na Europa, mais do que propriamente nos Estados Unidos, possuindo mais fãs na Alemanha e na França.
  • A aparência original dos alienígenas somente foi revelada uma vez, perto do final da segunda temporada, no episódio chamado "The Enemy" (O Inimigo). Richard Anderson (o Oscar Goldman de O Homem de Seis Milhões de Dólares), após ferir-se gravemente num acidente em seu disco voador, sofre um doloroso processo de mutação e revela realmente a horrenda forma dos alienígenas.
  • Roddy McDowall, Suzanne Pleschette, Jack (Havaí 5-0) Lord, Michael Rennie (o Colecionador de Perdidos no Espaço), Gene Hackman, Burgess Meredith ( o Pingüim de Batman) e Edward Asner foram algumas celebridades que participaram de episódios da série.
  • A música de Os Invasores originalmente foi ouvida pela primeira vez na série Quinta Dimensão (The Outer Limits), no episódio "The Form of Things Unknown". Também boa parte da música incidental de Dominic Frontiere para a série Os Invasores já havia sido ouvida na própria Quinta Dimensão e Ratos do Deserto (The Rat Patrol). Todas as três séries foram produções da Rede ABC, para quem Dominic Frontiere trabalhava, compondo vários clássicos inesquecíveis.
  • Desde o primeiro episódio, o objetivo dos invasores de frustrar os planos de David Vincent, que consistia em expô-los ao seu mundo descrente, é facilmente percebido. Em "Cabeça de Praia", piloto da série, David Vincent se encontra num local deserto e abandonado, onde aterrissaou a nave espacial que deu início ao seu pesadelo. Na localidade, durante a noite em que o ator testemunha a aterrissagem do disco voador, ele passa de carro por uma placa que identifica o nome de um bar, "Bud's Diner". Ao reportar o ocorrido à autoridade policial, precisamente às 6h da manhã daquele mesmo dia e convencê-la a acompanhar-lhe até o local da aterragem do disco voador, a placa do nome do bar é completamente mudada para "Kelly's Diner", como bem observado pelo policial encarregado da diligência. Tal fato traduz o intuito puro e simples dos invasores de desmoralizarem a estória de David Vincent, que havia anteriormente reportado àquela autoridade policial que o nome do bar era "Bud's Diner", como de fato era antes da mudança proposital. Detalhes como esse realmente fascinavam os telespectadores e demonstravam o cuidado da produção televisiva.
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DAKTARI

Título: Daktari (Daktari/1966-69/EUA/P&B)
Criação:
Ivan Tors
Produção: Ivan Tors
Elenco: Marshal Thompson (como Dr. Marsh Tracy); Cheryl Miller (como Paula Tracy); Clarence; Judy; Yale Summers (como Jack Dane); Hari Rhodes (como Mike); Hedley Mattingly (como o oficial da reserva florestal Hedley); Ross Hagen (como Bart Jason [1968/69]); Erin Moran (como o garoto Jenny Jones [1968/69]).
Música: Shelly Manne, Henry Vars
Estúdio
: Ivan Tors Films, Inc./Metro-Goldwyn-Mayer, Inc./CBS Television
Formato: 89 episódios de 50' (4 temporadas) + 1 longa-metragem de 90'.
Dublagem: Companhia Arte Industrial Cinematográfica - São Paulo (AIC).

Introdução

O leão, no cenário político-econômico-financeiro do Brasil, representa a volúpia do fisco e a insuportável carga tributária infligida a todos nós. Vítimas da impiedosa "mordida" na remuneração mensal, os brasileiros vivem atuando num sistema contributivo desigual e injusto, onde os assalariados é que pagam a conta do déficit público do país. Um Brasil que parece ter esquecido que todo tributo precisa e deve ter uma função social e que os que ganham fortunas são os que têm de contribuir generosamente, enquanto que os que ganham pouco ou quase nada, devem pagar menos tributos ou isentados legalmente.

Assuntos desagradáveis à parte, não obstante, o leão que pretendemos nos reportar nesta oportunidade está longe de ser o famigerado símbolo da cupidez fiscalista, espoliadora que é dos parcos centavos contidos nas algibeiras dos contribuintes. Ao contrário, o leão a que queremos nos referir foi uma das principais personagens de uma série de tevê cult dos nostálgicos e produtivos anos 60. Estamos falando do belíssimo leão vesgo Clarence, do clássico televisivo Daktari.

A Série

Daktari04

Equipe do Dr. Marsh Tracy

Daktari, a série de tevê levada ao ar pela CBS, nos Estados Unidos, no dia 11 de janeiro de 1966, foi, pela última vez, originalmente exibida no dia 15 de janeiro de 1969, quando da exibição de seu último episódio, num total de 89. A produção televisiva foi, na verdade, uma spin-off do filme produzido para o cinema "Clarence the Cross-Eyed Lion" (Clarence, o Leão Vesgo), produção de 1965 criada pelo renomado produtor executivo Ivan Tors, que tem no seu currículo as produções Rhino, Flipper, Namu the Killer Whale (Namu, a Baleia Assassina), dentre outros. No filme, o Doutor Marsh Tracy (Marshal Thompson) é o chefe de um centro de estudos do comportamento animal no Continente Africano. Ele se apaixona por Julie Harper (Betsy Drake), que, por sua vez, estuda a vida dos gorilas. O Dr. Marsh captura um leão que tem estrabismo e que o impossibilita de caçar para se alimentar. Sua filha Paula (Cheryl Miller), batiza a "fera amiga" de Clarence e a trata como um animal domesticado, seu bicho de estimação. Há uma interessante trama envolvendo tropas rebeldes e caçadores de gorilas que desejam trocar suas presas por dinheiro a ser investido na compra de armas.

Voltando à série de tevê, Daktari (que na língua banto quer dizer "médico") conservou da produção cinematográfica as personagens Marsh Tracy (Marshal Thompson), Paula (Cheryl Miller) e Clarence, o leão vesgo. Conta as aventuras de um veterinário americano e sua filha (Marshal Thompson e Cheryl Miller) no Centro de Estudos do Comportamento Animal Wameru, uma reserva florestal de proteção ambiental, localizada no país africano do Quênia. Foram adicionados ao elenco Yale Summers, como o ambientalista Jack Dane; Hari Rhodes, como Mike, um ambientalista africano; Hedley Mattingly, como o oficial britânico da reserva florestal Hedley; além de Ross Hagen (1968/69), como o caçador Bart Jason e Erin Moran (1968/69), como o garoto de seis anos de idade Jenny Jones, um órfão acolhido pelo Dr. Tracy.

Dr. Marsh Tracy

Juntamente com Clarence, também destaca-se no elenco a macaca Judy, grande apreciadoraDaktari01 de café, mais conhecida dos fãs da inigualável série de ficção científica Perdidos no Espaço (Lost in Space), produzida entre os anos de 1965/68, e, portanto, contemporânea de Daktari. Na série espacial, Judy era chamada de Debbie e interpretava o bichinho de estimação da personagem Penny (Angela Cartwright). Pouca gente sabe disso, mas realmente Judy e Debbie eram a mesma pessoa... ou melhor, macaca!

Aliás, os dois animais da série de tevê, Clarence e Judy, eram igualmente ou até mais populares do que as personagens racionais da série Daktari. A exemplo de outra série inesquecível, Caubói na África (Cowboy in Africa), Daktari foi filmada na África Californiana, nos Estados Unidos, que era um parque que abrigava mais de 500 animais selvagens, mantido por Ralph Helfer e o próprio Ivan Tors. O parque está localizado mais precisamente em Soledad Canyon, CA, há mais ou menos 60 km ao norte de Hollywood, mas atualmente se encontra desativado. A bem da verdade, parte das filmagens de Daktari foram feitas no Continente Africano, mas muito mais por espírito aventureiro e diversão do que propriamente por conta das locações.

Certa vez, conta a revista TV Guide, o ator Marshall Thompson, o produtor Leonard Kaufman e dois operadores de câmera encontravam-se dispersamente filmando cenas de animais na selva quando perceberam tinham sido cercados por elefantes, principalmente por um enorme elefante-macho que acabou os confrontando. "Há um velho ditado na selva, que diz que não se pode dar marcha a ré num Jeep mais rápido do que um ataque súbito de um elefante. Eu provei que esse ditado é completamente equivocado", disse Thompson. Conta ainda a TV Guide que essa experiência não foi suficiente para o ator, que decidiu que o Jeep deveria surpreender o elefante por trás para conseguir um melhor ângulo para a filmagem das cenas. Ignorando a votação de três contra um contra tal estupidez, Thompson dirigiu em direção ao animal, até que um dos operadores de câmera lhe disse: "Podemos parar agora? Eu já posso ver os olhos do bicho". Thompson, de sua parte, mostrava-se compenetrado. "Todo mundo deve ser atacado por um elefante pelo menos uma vez na vida", disse ele. "Revitaliza o metabolismo".

Dr. Marsh Tracy e Judy

E tais atitudes não foram os únicos pontos de coragem marcados pelo ator. Ele encarava um rinoceronteDaktari08 simplesmente para obter uma maior aproximação para as filmagens e comia o que quer que os nativos da região colocassem na sua frente, sem uma reclamação sequer. O que é mais curioso é que o pior ferimento de Thompson, produzido por um animal selvagem, não aconteceu na selva africana, mas no cenário das locações do parque americano. Os animais na série eram treinados com afeição, que envolvia alimentá-los e perdoá-los para que fossem muito mais dóceis do que infligir-lhes medo e disciplina rígida. Pois bem, quando Thompson tentou devolver um abraço apertado num leopardo agarrando-o efusivamente, o animal deu-lhe uma "amável" mordida no braço direito, deixando uma imensa cicatriz. "Foi culpa minha", admitiu Thompson. "Eu fui descuidado. Não há animais perigosos, apenas pessoas estúpidas".

A co-estrela Cheryl Miller, que fez a filha de Thompson na série, decididamente não era nem um pouco estúpida. Antes do começo das filmagens, ela teve algumas dificuldades enquanto passou por um treinamento de quatro semanas para aprender sobre o humor dos animais e seus padrões de comportamento. "Eu sofri algumas tentativas de mordidas, mas consegui me livrar delas", disse a atriz. Posteriormente ela logo demonstrou ser bastante habilidosa com as feras da série de tevê.

O co-criador Ivan Tors disse à TV Guide que a escalou para o elenco "(...) porque ela tinha a química necessária. Ou você gosta ou você não gosta de animais". O treinador e proprietário do Parque África Californiana, Ralph Helfer, depois explicou: "Ela não era uma das que suava a palma da mão. O animal conhece. Essa garota é tão boa que consegue fazer coisas com Sarang (o tigre de Daktari) que nem mesmo os treinadores conseguem fazer".

Parodiando a forma elogiosa a que se referiu Ralph Helfer quanto ao profissionalismo de Cheryl Miller, o fato é que ser tão boa estava longe de ser o suficiente, acredite. Os treinadores usavam uma outra fórmula para se certificar de que as cenas com os animais selvagens não representassem o mínimo perigo para a integridade física dos atores do elenco. Eles sempre alimentavam as feras antes de levá-las para as filmagens pela manhã.

Parte do trabalho interessante realizado em Daktari credita-se ao experto mago maquilador, o artista John Holden. Quando se precisava de um elefante africano (que tem orelhas grandes), mas o que a produção dispunha era de um elefante indiano (que possui orelhas bem menores), Holden entrava em ação. Ajeitava o animal para parecer que tinha orelhas maiores e ninguém conseguia distinguir o elefante africano do indiano. O multicitado leão Clarence detestava caminhões. Assim, seu substituto chamado Major era usado naquelas circunstâncias. Holden aplicava-lhe uma cauda cabeluda e pintava a cicatriz na fronte do leão, para que se parecesse com Clarence.

Esses detalhes desta produção televisiva, aliados à competência e o carinho do elenco no trato dos animais, assim como os próprios animais, Clarence e Judy, revelaram-se elementos indispensáveis para a aceitação e os bons índices de audiência da série, hoje considerada bastante cult e atualíssima, mostrando o respeito ao meio ambiente, fauna e flora, e levando mensagens de preservação e consideração para com a natureza.

Não podemos deixar de ressaltar que a aceitação quase que unânime de Clarence e Judy, fazia com que recebessem centenas de cartas dos fãs. Mas isso não era muito bem digerido pelo ator Hari Rhodes, que interpretava o nativo ambientalista de nome Mike na série. Segundo a TV Guide, Hari Rhodes teria dito irritado em 1968: "Você deve ler as correspondências dos fãs que eu recebo. Eles só falam sobre o leão Clarence, perguntam se ele é realmente vesgo. Ou sobre Judy, a chimpanzé, que perguntam se ela realmente é tão esperta".

Dr. Marsh Tracy e Clarence

Especulações e sensacionalismos à parte, o fato é que Daktari foi e ainda é bem lembrada,daktaritvshow-wordpress-com-yale-summers-jack-dane-hari-rhodes-mike-makula-marshall-thompson-dr-marsh-tracy-clarence-the-cross-eyed-lion-daktari ainda mais hoje, que as questões ambientais estão em evidência, fazendo com que a série jamais perca sua importância e contemporaneidade, além de ser fantástica e bastante agradável de se assistir. Para que se tenha uma vaga idéia da importância do tema abordado nesta série, não podemos deixar de lembrar que a Constituição Federal do Brasil, de outubro de 1988, precisamente na cabeça do seu art. 225, estatui que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".

Diante do dispositivo constitucional declinado, reflito e começo a ter dó das presentes e futuras gerações que não tiveram a oportunidade e a sorte de assistirem à série Daktari, que deveria fazer parte da grade televisiva de um canal aberto de grande audiência, não só restrita a alguns poucos assinantes da televisão por assinatura. Talvez, se as gerações de hoje fossem criadas assistindo a séries de televisão tão agradáveis quanto esta, os jovens pudessem ser mais suportáveis e talvez melhorassem seu conteúdo intelectual, sua formação familiar e se preocupassem mais com a preservação do meio ambiente. Mas, em vez disso, a considerável maioria é diuturnamente exposta ao "lixo" televisivo que é entulhado nos seus respectivos lares. Eles não podem ser considerados depósitos de porcarias e da pouca vergonha que agride o moral e os bons costumes nos dias atuais.

No Brasil

Daktari foi exibida no Brasil pela TV Record e Retro Channel.

Fontes de Pesquisa e Bibliografia

a) Total Television – A Comprehensive Guide do Programming from 1948 to the Present – Alex McNeil; Penguin Books (1991);
b) Mortys TV;
c) TV Guide;
d) Acervo particular do autor.

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About Me!

Sou uma pessoa feliz, amo muito a vida e dela sou aprendiz; Tenho várias paixões, entre elas: Colecionar MINIATURAS, mas, como qualquer um, possuo imperfeições; se os caminhos desta vida ainda não sei de cor, pelo menos busco, a cada dia, tornar-me alguém melhor.

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