DURANGO KID
Título: Durango Kid (Durango Kid, 1956)
Elenco: Jim Lowery/Durango Kid (Charles Starrett), Nancy Winslow (Luana Walters), Mace Ballard (Kenneth MacDonald), Steve (Francis Walker), Ben Winslow (Forrest Taylor), Marshal Trayboe (Melvin Lang), Bob (Bob Nolan), Pat (Pat Brady), Sam Lowry (Frank LaRue)
Nº de episódios: 64
Introdução
Acho que tinha uns dez para onze anos de idade quando pela primeira vez assisti pela TV a uma série sobre as aventuras de um cavaleiro negro com uma máscara que encobria parte de seu rosto, escondendo-lhe o nariz, a boca, parte das bochechas, o queixo e o pescoço. Tal cavaleiro montava um garanhão branco com um nome bastante sugestivo: “Corisco”. Para mim, na época, aquele cavalo rasgava as estradas das diligências e os atalhos mais íngremes com a mesma velocidade que atualmente fazem os carros de Fórmula 1 nas retas das pistas de corrida. O cavaleiro que o montava mais parecia uma entidade de outro mundo, chapéu e roupa preta de seda, portava uma arma, um revólver de seis tiros, e o sacava da sua cartucheira de couro com a mesma rapidez que o relâmpago risca os céus em prenúncio de tempestade. Aquele personagem era rapidíssimo no gatilho. Acertava qualquer alvo numa fração de segundos e desarmava bandidos e malfeitores com tiros sempre certeiros. Era uma verdadeira ameaça para os vilões e maus pistoleiros do velho oeste. Quem quer que tentasse cruzar ou impedir o seu caminho na busca incessante da verdade e da justiça a qualquer preço, terminaria na cadeia ou morto num tiroteio. O referenciado garanhão branco, que contrastava com aquele cavaleiro negro, era o sonho de qualquer adolescente na época, comparado aos dias de hoje com o sonho daqueles que completam 18 anos e não vêem a hora de receberem de presente o primeiro automóvel. Bons tempos aqueles, quando a televisão anunciava Durango Kid.
A Série
Naquela época eu ainda não me preocupava em saber quem era o ator por trás daquela máscara e que incorporava aquela entidade fantástica. Muito menos questionava alguns detalhes daquela produção de baixíssimo orçamento, que muitas vezes passavam despercebidos pelo meu senso de criança. Como exemplo, “onde é que ele esconde esse cavalo?”; “como ele pode trocar de roupa tão rapidamente e chegar sempre na hora de prender os bandidos ou evitar que a mocinha e Smiley sucumbam ante os malfeitores?”. O fato é que a série Durango Kid foi uma produção fantástica, típica, como todo “B-Western Serial” da época.
Depois de algum tempo, crescido e ainda saudoso das aventuras daquele intrigante paladino da justiça, sequioso por rever as aventuras que marcaram a minha infância, pesquisei e fiquei sabendo que o ator privilegiado que interpretou aquele intrépido mascarado foi o falecido ator americano Charles Starrett. Starret nasceu em Athol, Massachusetts, EUA, precisamente no dia 28 de março de 1903. Era de família abastada e não tinha planos de entrar para a carreira de ator, muito menos de se tornar um dos grandes caubóis da história mundial do entretenimento. No começo da carreira dele, quando ainda estudante, alto, elegante e de físico privilegiado, Charles Starrett já era considerado uma das grandes atrações do time de futebol americano da sua faculdade, na Universidade de Darmouth, ou simplesmente, Darmouth College. De acordo com a história, o primeiro contato com o cinema foi bastante discreto, mas suficiente para despertar seu interesse, que foi ativado quando participou timidamente de uma produção cinematográfica de 1926. Foi convidado para fazer uma pequena ponta no filme O Campeonato do Amor (The Quarterback), juntamente com todo o time de futebol da universidade, que apareciam em várias cenas ao longo do filme. A partir daí, movido pelo entusiasmo e a novidade, aquele atleta percebeu que atuar era o que mais lhe aprazia, passando posteriormente para os palcos de teatro.
Todos têm conhecimento que a personagem Durango Kid foi a consagração de Charles Starrett. Pouca gente sabe, entretanto, que apesar de ter sido um dos principais responsáveis pelo sucesso da personagem e o primeiro a lhe dar a vida, Starrett não foi o único a interpretar aquele intrépido paladino da justiça na história do entretenimento. Durango Kid também foi interpretado e vivido por outros dois atores: Wally Cassel (no filme “Lei e Ordem”/”Law and Order” de 1953) e Joe Pantoliano (no filme feito para a tevê, “El Diablo” em 1990). Dados históricos e anotações de vários fãs americanos, estudiosos e especialistas no assunto, disponibilizados na Rede Mundial de Computadores, dão conta de que a primeira vez que se ouviu falar na personagem Durango Kid foi justamente no filme feito pelo próprio Starrett, numa produção do ano de 1940, chamada de “O Cavaleiro de Durango”/”The Durango Kid”. Posteriormente, o sucesso daquele filme se concretizaria com a produção de mais 64 (sessenta e quatro) longas em preto e branco, que compuseram a famosa série que passou na tevê. O curioso é que referidos episódios não foram feitos para a tevê, mas para o cinema e eram passados principalmente nas matinês. Todos os episódios da série chegaram a ser exibidos no Brasil, inclusive meu pai foi um dos que assistiu a quase todos os episódios, ainda no tempo das matinês de sábado no Brasil. Portanto, de acordo com registros incontestáveis do próprio estúdio, Starrett viveu o Durango Kid em 65 brilhantes oportunidades.
A carreira de Charles Starrett nem sempre foi um “mar de rosas”, como via de regra não é o início de carreira dos grandes artistas. Antes de encarnar a inesquecível personagem que iria lhe render toda a fama e o sucesso merecido, ele passou por inúmeras frustrações como ator, atuou para estúdios independentes e sem muita expressão, mas que lhe ajudaram a treinar e lapidaram o seu talento artístico, enriquecendo de certa forma todo o seu caminho rumo ao sucesso que iria ser reconhecido mais tarde. Ficou também muito tempo nos palcos de teatro, adquiriu muita maturidade na arte da interpretação, tudo seria somado ao seu perfil artístico. Atuou também em comédias, comédias românticas, alguns filmes de ação, tudo isso antes de atuar em bangue-bangues de sucesso e finalmente solidificar-se na série Durango Kid.
Primeiramente, Starrett assinou um contrato com a Paramount, atuando em seis filmes no período compreendido entre os anos de 1930 e 1932. Após a experiência na Paramount, quando teve a oportunidade de fazer o papel principal no filme da MGM, A Máscara de Fu Manchu (The Mask of Fu Manchu) em 1932 (com Boris Karloff), Starrett desanimou um pouco, mas soube que o estúdio da Columbia estava procurando um ator para substituir o grande ator Tim MacCoy para atuar nos filmes de bangue-bangue do estúdio. Nessa época, lembra Starrett, ao tomar conhecimento desse fato procurou incontinenti o estúdio e assinou o contrato. Disse que não queria ser estereotipado, mas que assinaria o contrato por dois anos. O sucesso de Starrett foi tão grande, que sempre que seu contrato estava para vencer, imediatamente o estúdio o procurava para uma renovação. Starrett não queria ser estereotipado como apenas mais um ator de filmes de bangue-bangue. Tentou atuar e fazer filmes de outros gêneros, mas não deu outra, pois o gênero de maior sucesso na época era o faroeste, que hoje caiu no ostracismo, lamentavelmente. Resultado: Starrett fez 131 filmes de faroeste “B” para a Columbia.
A época em que Charles Starrett começou a fazer papéis nos bangue-bangues e filmes de faroeste foi justamente a época de sucesso de outro grande nome: Gene Autry. Aquela era a época dos caubóis cantores. No entanto, por não saber cantar, os filmes de Starrett não refletiram o interesse do público naquele momento, o de ver um caubói cantando. Ele não cantava, mas o estúdio optou por acrescentar às suas películas um novo grupo, “The Sons of the Pioneers”, formado pelos músicos Bob Nolan, Tim Spencer, Hugh e Karl Farr e Len Slye. Este último, antes de se tornar uma das maiores celebridades do mundo, Roy Rogers. Além dos cantores- caubóis, outra mania da época dos faroestes consagrados era a figura do sidekick. Era o parceiro, normalmente uma pessoa hilária, atrapalhada e meio acovardada, que no entanto muitas vezes ajudava o mocinho a sair das situações mais embaraçosas, delicadas e complicadas. Quase sempre dosava tramas com toques de humor, que serviam para atender de certa forma aos órgãos censores da época. Tal fato ajudava a quebrar a tensão e contra-balanceava as cenas tidas como violentas e os enredos considerados pesados para o público infantil. Os sidekicks se destacavam pelos trejeitos e caretas, escorregões, fuga de namoradas solteironas, pelas vozes engraçadas, o jeito de cantar, enfim, tudo que a época permitia e que traduzia sempre a pureza e a ingenuidade temporal, completamente diferente do que presenciamos hoje nas novas séries e programas de TV.
Charles Starrett, na série Durango Kid, quase sempre era chamado de Steve “alguma coisa”. Com exceção de algumas oportunidades, como na produção de 1940 e de alguns episódios, inclusive o primeiro da série, O Retorno de Durango Kid (Return of the Durango Kid) (1945), cujo nome dado para o seu alter-ego foi o de Bill Bladen.
Smiley Burnette foi o mais marcante e o mais conhecido parceiro de Starrett, graças ao seu talento e uma história na indústria do entretenimento de causar inveja a qualquer outro ator. Burnette, também americano, nasceu no dia 18 de abril de 1911, em Sumner, Illinois. Sempre trabalhou com grandes nomes do faroeste, tais como Gene Autry, Sunset Carson, Roy Rogers, dentre outros.
Em 1945, o graduado dos seriados do estúdio da Mascot - um pequeno estúdio que chegou a produzir 24 seriados - o produtor Colbert Clark, que chegou a produzir uma série de sucesso mais ‘moderna’ de western Annie Oakley, em 1954, juntou-se à Columbia como o novo produtor dos filmes de faroeste de Charles Starrett. Inclusive, adicionou o cantor Tex Harding ao elenco dos filmes de Starrett, para substituir os grupos musicais convidados de costume. Colbert Clark então, decidiu reativar a personagem que o próprio Charles Starrett havia interpretado na referida produção de 1940, O Cavaleiro de Durango (The Durango Kid), e transformá-lo numa espécie de Robin Hood mascarado. Na série, o produtor Colbert Clark resolveu colocar ao lado de Starrett o referido cantor, Tex Harding, quando depois disso optou pela formação de um trio de atores, trazendo Dub Taylor para o elenco. Ainda sobre a famosa produção de Clark, Annie Oakley, tratava-se de uma série que tinha como atriz principal a bela Gail Davis, exímia atiradora que andava pelo velho oeste fazendo “shows” e ajudando o xerife local a restaurar a lei e a ordem. Gail Davis aparece no episódio clássico da série Durango Kid, em 1950, Rio Perdido (Trail of the Rustlers), em que existem duas pessoas agindo como o Durango Kid, um deles impostor.
Iniciada a série Durango Kid, o roteirista J. Benton Chaney, afortunadamente, e dando um toque todo especial ao personagem vestido de seda preta, sugeriu a inclusão da máscara negra nos figurinos de Starrett. Este, achou uma brilhante idéia e concordou plenamente com o item adicionado, que dava um certo ar de mistério e aterrorizava os bandidos que iria enfrentar.
A inclusão do item de fetiche que escondia parte do rosto de Starrett foi um estrondoso “frisson” no público e era um elemento indispensável para realçar a figura do seu alter-ego. Ilustre-se que a utilização do item máscara já havia sido popularizada em inúmeras personagens, principalmente na da personagem “O Zorro”, que foi criada por Johnston MacCulley, um escritor considerado medíocre, mas que de certa forma revolucionou o mundo do entretenimento ao introduzir a figura do alter-ego. A máscara, de uma maneira geral, foi apresentada ao público mundial praticamente graças ao intelecto e à visão de um dos maiores nomes da história inicial do entretenimento, o ator de filmes de aventura e também produtor, Douglas Fairbanks, máxime na bem-sucedida produção, A Marca do Zorro (The Mark of Zorro) (1920), baseada na personagem de “pulp fiction” criada pelo famoso escritor Johnston McCulley.
Em 1946, os atores adicionados por Colbert Clark saíram de cena para a estréia na série do famoso “sidekick”, Smiley Burnette, que não mais abandonaria Charles Starrett, acompanhando-o até o final de sua carreira artística. Famoso pelos papéis engraçados, pois sempre interpretava uma figura hilária nos episódios da série, Burnette, nos créditos dos filmes em que participava, antes de atuar ao lado de Starrett, era muitas vezes creditado como: George ‘Smiley’ Burnette, Lester ‘Smiley’ Burnette, ou simplesmente, Lester Burnette. Burnette era apelidado de “Ole Frog”.
A série Durango Kid começou com o episódio A Volta de Durango Kid (The Return of the Durango Kid), no ano de 1945, e iria durar cerca de sete temporadas inteiras. As produções foram concretizadas no período compreendido entre os anos de 1945 a 1952, com exatos 64 episódios, sendo o último episódio Depoimento Acusador (The Kid From Broken Gun).
Como toda série produzida, altos e baixos também permearam sua história. Um dos ingredientes fundamentais que contribuiu para o sucesso de Durango Kid foi a colaboração do dublê (“stuntman”) Jock Mahoney (Jacques Mahoney ou Jack Mahoney), que substituiu Ted Mapes. Eles fizeram com que as cenas de lutas e perseguições ficassem mais interessantes e ousadas. Mahoney já era bastante conhecido como dublê e também ficou mais famoso por suas inúmeras participações em séries de western feitas para a TV nos anos 50 e mais ainda pelas curtíssimas séries: The Range Rider, de 1951 a 1953 e Yancy Derringer, de 1958 a 1959. Jock Mahoney vestiu a máscara negra de Durango Kid em incontáveis cenas de ação. Pela semelhante compleição física, o público dificilmente poderia perceber a diferença na troca durante as cenas mais perigosas.
Apenas para ilustrar, a série Range Rider era uma série de western de meia-hora voltada principalmente para o público infantil e mostrava as aventuras do mocinho vivido por Jock Mahoney e seu fiel companheiro Dick Jones, interpretado pelo ator Dick West. Já Yancy Derringer é também um “western” de meia-hora, mas sobre um cavalheiro refinado e também jogador profissional que havia acabado de retornar à Nova Orleans, após a Guerra Civil, e que pela necessidade e premência de oficiais do governo, tornou-se um agente secreto do Velho Oeste, trabalhando com o seu parceiro e fiel companheiro, o índio Pahoo-Ka-ta-Wha, para acabar com a corrupção e os malfeitores que atentavam contra a ordem pública e o estado de direito. Charles Starrett uma vez falou que sempre teve os melhores dublês e nunca deixou de asseverar a todos a fantástica contribuição que Jack Mahoney trouxe para aumentar o sucesso da série, indiscutivelmente.
Charles Starrett casou-se com Mary McKinnon em 1927, foi pai de gêmeos em 1929 e faleceu aos 82 anos de idade, precisamente no dia 22 de março de 1986 em Borrego Springs, Califórnia, EUA. Apesar dos implacáveis punhos do Durango Kid, Starrett lamentavelmente perdeu a luta final para um adversário ainda mais implacável, o câncer. Já havia deixado as telas há bastante tempo, no ano de 1952. Ao se aposentar, era um homem rico e mais ainda por haver herdado a Companhia de Ferramentas “Starrett”, ainda hoje uma das líderes do mercado mundial no ramo, tocada por seus descendentes. Starrett nasceu num mês de março e morreu igualmente num mês de março, uma característica bastante peculiar que somente ocorre com os grandes astros. “O Velho Durango”, apesar da sua condição financeira invejável, pois soube administrar como poucos tudo aquilo que ganhou na vida, foi sempre um ótimo exemplo de dignidade e de simplicidade. Seu corpo foi enterrado, mas o seu espírito permanecerá sempre na memória dos fãs e irá testemunhar a colheita de todos os frutos que nasceram e ainda nascerão das sementes por ele plantadas. Sua dignidade, seu talento e seu exemplo de vida jamais serão enterrados, pois seus fãs sempre darão testemunhos incontestáveis da sua vida e do seu talento por todas as gerações, mantendo sempre viva aquela entidade quase que surreal, mascarada e misteriosa, o Durango Kid.
Assistir a algum episódio da série Durango Kid nos dias de hoje pela TV é impossível. Não há interesse das empresas nesse tipo de gênero. Também não é tarefa das mais fáceis a aquisição de boas cópias de episódios. As grandes empresas comerciais que vendem episódios da série, restringem-se a manter nas suas prateleiras, três, no máximo quatro títulos que foram lançados e que somente podem ser encontrados com o som original, sem legendas e sem as nostálgicas vozes da dublagem feita no Brasil. Quanto aos episódios dublados, apenas se consegue obter a preço de ouro das mãos de colecionadores brasileiros, cujas cópias muitas vezes deixam muito a desejar e são alteradas propositalmente com a inclusão do nome, telefone, endereço ou logomarca do colecionador. Principalmente no início e no final dos créditos, o que é um desrespeito para com os consumidores e fãs do gênero. Outras vezes, as cópias desses colecionadores foram mutiladas ou telecinadas, num processo bastante primitivo, sem a conservação ideal do rolo matricial.
Curiosidades
- Antes de dar vida ao personagem Durango Kid, Charles Starrett foi testado pela Columbia para viver a personagem de um caubói médico.
- Charles Starrett e Smiley Burnette começaram a trabalhar juntos, ambos com o pé esquerdo, pois na primeira participação da dupla não havia aquela química tão necessária às duplas. O clima não era muito amistoso entre os atores, talvez pela franqueza de Smiley Burnette, que muitas vezes falava o que pensava sem a preocupação de agradar ou ferir quem quer que fosse. Com o tempo e a convivência, os atores aprenderam a se respeitar mutuamente e colocaram as vaidades de lado, firmando um pacto de compromisso para o bem e o sucesso da série Durango Kid, terminando como bons amigos fora do estúdio.
- A série Durango Kid foi feita especialmente para a telona, na categoria de filmes de western na categoria "B". Eram produções de baixíssimo orçamento na época.Posteriormente, com a massificação da tevê, os filmes passaram na telinha.
- Starrett fez 131 B-Westerns para a Columbia entre 1935 (começando por GALLANT DEFENDER) e 1952 (seu último foi KID FROM BROKEN GUN), tratou-se de um recorde na época, considerando a longevidade e a quantidade de produções para uma estrela do western em apenas um único estúdio. Entre 1937-1952, Starrett sempre esteve entre os dez mais bem-sucedidos financeiramente do gênero western. Isso só não ocorreu no ano de 1943.
- Antes de Jock (Jack) Mahoney, o dublê que fazia as cenas de perigo no lugar de Starrett, encarnando o Durango Kid, era o dublê Ted Mapes, que não era tão ágil e tão bom quanto seu sucessor.
- Milhares de colecionadores de filmes e vídeos ainda nutrem a esperança de verem seus raros acervos da filmografia de Starrett completos um dia, pois muitos filmes estrelados por ele ainda se encontram literalmente trancados a sete chaves nos estúdios da Columbia. Somente alguns filmes foram ao ar pela televisão e através dos canais americanos "Movie Channel" e "Western Channel". Muita coisa ainda está inédita na telinha, o que é uma pena e com certeza deixa os fãs com água na boca.
- Perguntado um dia se não estava arrependido de ter tido seu nome sempre associado à figura do personagem Durango Kid, Charles Statrrett respondeu: "Como eu poderia me arrepender disso? Antes de interpretar o Durango Kid eu percorri um longo caminho. Interpretá-lo foi uma boa fonte de lucro. Ademais, isso só me fez bem!"
- Os últimos filmes da série Durango Kid foram editados com cenas emprestadas de outros filmes da própria série. As duas justificativas para isso repousam nos fatos de que eram necessários para compensar o tempo perdido e para economizar dinheiro.
- Uma das últimas exibições de Durango Kid no Brasil foi pela TV Pampa de Porto Alegre/RS em 1984. Na época a emissora era afiliada da Rede Manchete.
TARZAN
Título: Tarzan (Tarzan/1966-68/BRA-MEX/Cor)
Criação: Edgar Rice Burroughs
Produtor Executivo: Sy Weintraub
Elenco: Ron Ely (Tarzan), Manuel Padilla Jr. (Jai), Alan Caillou (Jason Flood), Rockne Tarkington (Tao)
Produtora: Banner Productions/Warner Bros.
Formato: 57 episódios de 47 minutos em 2 temporadas
Dublagem: Herbert Richers
Introdução
Se alguém pedisse para eu nominar um ator de série de tevê que realmente fez jus ao seu salário, recusou-se a ser substituído por dublês nas cenas mais perigosas e teve coragem de trabalhar praticamente semi-nu, sem pestanejar eu responderia: Ron Ely, na série Tarzan!
Essa foi a primeira produção televisiva do personagem e estreou nos EUA em setembro de 1966. Lamentavelmente, saiu do ar dois anos depois. O atlético ator de 1,90 m de altura, na verdade, um texano batizado Ronald Pierce, nascido aos 21 de junho de 1938, foi o grande responsável pelo estrondoso sucesso do personagem na telinha. Ron Ely, ainda sem sonhar que um dia imortalizaria o personagem na televisão, sempre foi um homem perseverante e disciplinado na busca da concretização de seus objetivos.
Matriculou-se na Universidade do Texas, mas logo se mudou para a Califórnia. Após assinar contrato com a 20th Century Fox no final dos anos 50, Ely interpretou pequenos papéis coadjuvantes e inexpressivos em diversas séries de tevê, como How to Marry a Millionaire (1957/59, com Merry Anders, Barbara Eden e Lori Nelson), e em filmes como "South Pacific" e "The Remarkable Mr. Pennypacker".
Em 1960, Ely foi escalado no elenco de uma série de tevê da CBS, chamada The Aquanauts (1960/61), que não se confunde com a série Sea Hunt ("Caçada Submarina"), também estrelada por Ely em 1987 (Sea Hunt foi uma versão moderna da série de mesmo nome, anos antes estrelada por Lloyd Bridges entre 1957 e 1961).
The Aquanauts foi cancelada após uma única temporada, mas sem desanimar, o ator continuou perseguindo o merecido reconhecimento profissional em vários outros filmes. Sua maior oportunidade ainda estaria por vir no ano de 1966, quando foi escalado no papel principal de Tarzan, na série de tevê de mesmo nome.
Ron Ely já havia tentado o papel de Tarzan na telona, logo após Jock Mahoney ("The Range Rider" e "Yancy Derringer") ter abandonado o papel em 1963. Porém, acabou perdendo a oportunidade para o jogador de futebol americano e ator Mike Henry, que já havia feito três filmes como Tarzan e foi inicialmente cogitado para a série de tevê. Mas Henry recusou o papel devido algumas desagradáveis experiências ocorridas enquanto filmava seu primeiro filme como Tarzan. Com a desistência de Mike Henry, então, a porta do sucesso se abriu e Ron Ely foi escalado para o tão cobiçado papel principal. "A tevê necessita de sex symbols, e Ron tem todos os atributos para isso", disse Sy Weintraub.
Ron Ely foi o décimo quarto ator a interpretar Tarzan, desde a primeira aparição do personagem a meio século antes, no filme mudo "Tarzan dos Macacos" (Tarzan of the Apes, 1918).
Após inúmeras frustrações na tentativa de se criar a série de tevê Tarzan, o produtor Sy Weintraub finalmente pôde levar o personagem para a telinha em 1966. Tarzan, como já mencionamos, foi ao ar pela NBC nos EUA, entretendo os lares norte-americanos a partir da primeira quinzena de setembro de 1966, prolongando-se até abril de 1968. Foram produzidos 57 selvagens episódios de 47 minutos cada. Na série para a tevê não havia a personagem Jane, mas sim, a chimpanzé Chita, que foi seu elemento humorístico.
A título de curiosidade, a outra série na tevê americana que era exibida pela NBC após o término de Tarzan era Jornada nas Estrelas.
Acidentes e Perseverança
Como dissemos, Ely recusou-se em ser substituído por dublês nas cenas mais perigosas, como combates corporais com animais selvagens, locomoção, travessias de pântanos utilizando-se apenas de cipós, pulos e mergulhos de altíssimas cachoeiras. Mas estas cenas de ação e aventura de Ron Ely exigiam demais de seu físico avantajado. As situações de perigo eram gravadas como se o ator tivesse com o corpo tomado, possesso por alguma força inimaginável e jamais vista. Muitas vezes ele atuava sentindo terríveis dores, quase que insuportáveis, advindas das conseqüências dos momentos de tensão e de ação exigidos pelos diretores. Mas nunca deixou de asseverar: "Tarzan é o papel que venho esperando a vida toda". O diretor James Komack, numa entrevista dada para a revista TV Guide, disse certa vez ter ouvido de Ron Ely a seguinte frase: "Essa é a minha grande chance. Eu nunca tive um papel de destaque. Eu nunca estive numa série de qualidade. É uma boa sensação, tão boa que, de certo modo, custo muito a acreditar que me machucarei seriamente".
A palavra "seriamente" era utilizada de forma muito subjetiva por Ron Ely. Na verdade, freqüentes suturas múltiplas, costumeiros pontos no corpo todo, ossos quebrados constantemente e músculos repetidas vezes distendidos era o que mais se via no ator. Não só para mim, mas para qualquer pessoa em sã consciência, tais conseqüências podem traduzir realmente graves ferimentos e terríveis machucados.
Os danos e as lesões provocadas nas intensas cenas de ação na série, foram os motivos que fizeram com que o ator Mike Henry desistisse do papel, a ter que encarar os desafios verdadeiramente experimentados por Ron Ely. No caso de Mike Henry, num dos filmes encarnando ao personagem Tarzan, um chimpanzé, que deveria dar um beijo inocente e sem nenhuma conseqüência no ator cinematográfico, arrancou-lhe um pedaço do queixo, proporcionando-lhe 18 pontos no local. O fato motivou seu pedido de demissão e o manejo de uma ação de danos contra os produtores cinematográficos na cifra de 875 mil dólares.
Mas esses "detalhes" jamais abalaram Ron Ely. Com ele, um puma, que é uma onça amarelo-avermelhada, conhecida no Brasil pelo nome de suçuarana, infligiu-lhe uma terrível cicatriz no calcanhar. Ademais, um leopardo rasgou-lhe a perna esquerda e um leão mordeu-lhe a fronte (pegou cinco pontos no local), arrastando o ator pelos pés por vários metros. Ely ganhou diversos ferimentos, mas admitiu: "É uma questão de honra. Eu realmente acredito que posso dominar esses animais".
E não foi só isso. Ron Ely, certa vez, lesionou o nervo da coluna cervical, pinçando-o em virtude da protusão do disco causada pela força compressiva no pescoço, enquanto carregava um ator e um bote afundado ao mesmo tempo. Também machucou o rosto e queimou os braços e as pernas enquanto atravessava um corredor estreitíssimo repleto de chamas flamejantes. Outra vez, Ron Ely deixou escapar o cipó numa de suas travessias por entre as árvores durante uma seqüência, caindo de uma altura de mais ou menos 10 metros. Sua cabeça e ombro foram os amortecedores do impacto do corpo, que caiu inconsciente. "Na verdade, eu fiquei constrangido", disse numa entrevista. "Eu quis levantar e mostrar à multidão de espectadores que se encontrava no local que tudo estava bem. Eu ainda guardo a lembrança da queda e da aproximação da minha cabeça até o solo. É uma péssima lembrança". Obviamente que a necessária cirurgia para reposicionar o ombro deslocado não foi tão agradável, mas os produtores mostraram seu pragmatismo salvando a cena e rescrevendo-a para incluir Tarzan, do alto, levando um tiro certeiro de um ladrão.
Por conta de prejuízos e danos como esses, Ron Ely teve garantida uma apólice de seguro no valor de 3 milhões de dólares, pagos pela produção. Mas outros envolvidos na série de tevê também sofreram algumas situações inusitadas e foram vítimas das circunstâncias. Um elefante treinado usado na série, certa vez enfureceu-se na locação e antes de ser baleado, atacou uma mulher, uma criança e esmagou o treinador causando-lhe a morte. E um garoto de 10 anos de idade levou uma mordida de Vickie, o verdadeiro nome do chimpanzé que fazia o papel da macaca Chita, devido a uma crise de ciúmes a que foi acometida ao observar Ron Ely contracenando com o garoto.
O diretor Komack lembra de como, certa vez, Ron Ely apareceu na locação da série com um ligamento lesionado. Sua perna estava toda escura por conta do rompimento dos vasos sangüíneos no local. O ator insistiu que podia trabalhar e pediu ao maquilador que cobrisse a descoloração da perna com maquilagem. Mesmo correndo o risco da coagulação vir a matá-lo se fosse para seus pulmões, Ron Ely, ainda assim, pediu ao médico que lhe desse uma injeção contendo um agente anticoagulante. Tudo isso quis dizer, é claro, que se ele se cortasse durante a filmagem, poderia facilmente sangrar até a morte. "Por que ele fez isso?", Komack escreveu. "Porque Tarzan assim o faria. E Ron Ely é Tarzan".
E essa não foi uma observação isolada do diretor. Uma outra observação no mesmo sentido também veio do próprio Ron Ely. "Se é algo que eu sinto que posso fazer, eu devo fazer sozinho", disse Ely. "Não é bom vender algo que não seja verdade. Eu quero fazer com que o telespectador acredite que eu sou Tarzan". E Ron Ely realmente convenceu, não obstante as escoriações, os hematomas, os tombos, as fraturas, os cortes, os machucados e os inúmeros riscos à sua integridade física e à própria vida. Um ator extremamente profissional, preocupado com o respeito e a opinião de seus fãs e dos envolvidos nas filmagens.
A Série
Tal qual os filmes do Homem-Macaco, a série feita para a tevê manteve no seu elenco Tarzan, nascido Lorde Greystoke, mas que preferiu a vida na selva.
Quando criança, Tarzan era chamado de John Clayton III, ou Lorde Greystoke. Certa vez, perdeu-se de seus pais numa floresta, onde foi encontrado e criado pelos grandes macacos. O menino recebeu o nome de Tarzan, que significa "Pele Branca". Mais tarde, voltou para a civilização, onde foi educado, mas acabou voltando para a selva que ele conhecia tão bem, onde lutaria pela lei do direito. A onça passou a conhecer alguém mais ágil que ela e o leão, a conhecer alguém mais corajoso.
O grito de Tarzan é conhecido por todas as criaturas da selva. Ao ouvi-lo, o antílope sabe que está a salvo, o leão pára,e o crocodilo busca a segurança da água e o elefante vem até o seu amigo.
Na série também estrelam Manuel Padilla, Jr., como Jai, o garoto auxiliar de Tarzan, que a exemplo do próprio Tarzan, era um órfão da selva; a macaca Chita (Vickie); Alan Caillou como Jason Flood, tutor de Jai; e Rockne Tarkington como Rao, um veterinário. A série foi produzida pela companhia Banner Productions e teve locações filmadas no Brasil e no México.
Gravações
Os primeiros episódios de Tarzan foram filmados no Brasil e os demais no México. As gravações das primeiras aventuras foram caóticas devido a chegada da temporada de chuvas na América do Sul. Ainda assim, foram possíveis tomadas importantes como de Tarzan nas Cataratas do Iguaçu e na tripla fronteira da Argentina, Paraguai e Brasil. O produtor da série - Weintraub - disse na ocasião: "Essas cataratas convertem as do Niágara numa gota de água. Não há nada que se compare. Os espectadores irão apreciar".
Entretanto, as difíceis condicões de gravação, a presença de disenteria, mosquitos e pragas, desmoralizavam qualquer um, além de provocar mais gastos do que o previsto. Depois de vários meses, apenas cinco episódios haviam sido gravados e o orçamento de 450 mil dólares já estava quase acabando.
Nas últimas cenas filmadas no Brasil, com Ely correndo por um set que devia pegar fogo, foram satisfatórias para todos, menos para o própio Ely, que teve queimaduras nos braços e pernas. Mas as aguentou heróicamente e não se quixou de nada, já que ele mesmo queria fazer suas própias cenas de risco, sem dublês. Logo depois, Weintraub mudou as gravações para o México.
Curiosidades
• Na tevê americana, pela Rede NBC, Tarzan era exibido nas noites de sexta-feira, às 19h, e competia diretamente com a série de faroeste James West da CBS e com Off to See the Wizard na ABC. Não recordo quando assisti a Tarzan pela primeira vez, nem ao menos o canal da tevê brasileira que inicialmente levou a série ao ar, mas recordo inúmeros episódios e a presença de alguns atores brasileiros, tais como José Lewgoy e Mílton Gonçalves, dentre outros que atuavam como figurantes. Numa atitude assaz ignóbil dos produtores, pelo menos os que tinham uma participação mais marcante não tinham seus nomes creditados nos episódios.
• Uma estória que marcou a minha infância foi o episódio de duas partes "Silêncio Mortal" (The Deadly Silence), sendo inesquecível o final da primeira parte, quando Tarzan, submerso num rio, é impiedosamente bombardeado por inimigos e perde temporariamente a audição.
• Quando criança, eu costumava imitar a marcha de Tarzan, sibilando a inesquecível composição musical que tinha na sua condução o maestro Walter Greene. A orquestra era a de Emil Cadkin e a marcha de Tarzan atribuída ao mago Sydney Lee, característica marcante quando das cenas de ação.
• Muitos atores de renome e celebridades participaram dos episódios de Tarzan. Diana Ross fez uma irmã da igreja que retorna a sua aldeia para construir um hospital e catequizar os seus.
• Ron Ely, hoje em dia, dedica-se a escrever novelas de mistérios, obtendo grande sucesso como escritor.
• Nos últimos anos, revi Tarzan dublado no canal por assinatura Warner Channel. Até o fim de 2005, pudemos rever os episódios pelo canal Retro, mas somente disponibilizados com legendas, sem a inesquecível dublagem original.
• A Media Enterprises lançou todos os 57 episódios da série numa coleção de 28 DVDs. O idioma é o original em inglês, sem legendas. Somente localizei a venda através de lojas virtuais estrangeiras.
• A lenda de Tarzan se diferencia das lendas da antiguidade, pois estár relacionada ao imperialismo inglês na África: um lorde inglês branco se perde na selva e, crescido, se torna "rei da selva" africana; Tarzan tem mais relações com os macacos do que com os povos nativos da África; e finalmente, Tarzan se casa com Jane, uma norte-americana de modos aristocráticos, para assim continuar a linhagem branca no domínio do continente africano.
OS INVASORES
- Na versão original em inglês, o ator William Conrad foi o narrador invisível da série, pelo menos nos créditos iniciais, como também na maioria das séries produzidas por Quinn Martin.
- Embora tenha sido uma série antológica com apenas uma estrela principal, o ator Roy Thinnes, muitos outros atores apareceram em mais de um episódio, interpretando diferentes personagens. Num episódio, considerado raro pela época em que foi ao ar, "The Vise" (O Torno), todo o elenco era de atores negros, com exceção de Roy Thinnes e Kent Smith.
- A série é bastante cultuada na Europa, mais do que propriamente nos Estados Unidos, possuindo mais fãs na Alemanha e na França.
- A aparência original dos alienígenas somente foi revelada uma vez, perto do final da segunda temporada, no episódio chamado "The Enemy" (O Inimigo). Richard Anderson (o Oscar Goldman de O Homem de Seis Milhões de Dólares), após ferir-se gravemente num acidente em seu disco voador, sofre um doloroso processo de mutação e revela realmente a horrenda forma dos alienígenas.
- Roddy McDowall, Suzanne Pleschette, Jack (Havaí 5-0) Lord, Michael Rennie (o Colecionador de Perdidos no Espaço), Gene Hackman, Burgess Meredith ( o Pingüim de Batman) e Edward Asner foram algumas celebridades que participaram de episódios da série.
- A música de Os Invasores originalmente foi ouvida pela primeira vez na série Quinta Dimensão (The Outer Limits), no episódio "The Form of Things Unknown". Também boa parte da música incidental de Dominic Frontiere para a série Os Invasores já havia sido ouvida na própria Quinta Dimensão e Ratos do Deserto (The Rat Patrol). Todas as três séries foram produções da Rede ABC, para quem Dominic Frontiere trabalhava, compondo vários clássicos inesquecíveis.
- Desde o primeiro episódio, o objetivo dos invasores de frustrar os planos de David Vincent, que consistia em expô-los ao seu mundo descrente, é facilmente percebido. Em "Cabeça de Praia", piloto da série, David Vincent se encontra num local deserto e abandonado, onde aterrissaou a nave espacial que deu início ao seu pesadelo. Na localidade, durante a noite em que o ator testemunha a aterrissagem do disco voador, ele passa de carro por uma placa que identifica o nome de um bar, "Bud's Diner". Ao reportar o ocorrido à autoridade policial, precisamente às 6h da manhã daquele mesmo dia e convencê-la a acompanhar-lhe até o local da aterragem do disco voador, a placa do nome do bar é completamente mudada para "Kelly's Diner", como bem observado pelo policial encarregado da diligência. Tal fato traduz o intuito puro e simples dos invasores de desmoralizarem a estória de David Vincent, que havia anteriormente reportado àquela autoridade policial que o nome do bar era "Bud's Diner", como de fato era antes da mudança proposital. Detalhes como esse realmente fascinavam os telespectadores e demonstravam o cuidado da produção televisiva.
DAKTARI
Título: Daktari (Daktari/1966-69/EUA/P&B)
Criação: Ivan Tors
Produção: Ivan Tors
Elenco: Marshal Thompson (como Dr. Marsh Tracy); Cheryl Miller (como Paula Tracy); Clarence; Judy; Yale Summers (como Jack Dane); Hari Rhodes (como Mike); Hedley Mattingly (como o oficial da reserva florestal Hedley); Ross Hagen (como Bart Jason [1968/69]); Erin Moran (como o garoto Jenny Jones [1968/69]).
Música: Shelly Manne, Henry Vars
Estúdio: Ivan Tors Films, Inc./Metro-Goldwyn-Mayer, Inc./CBS Television
Formato: 89 episódios de 50' (4 temporadas) + 1 longa-metragem de 90'.
Dublagem: Companhia Arte Industrial Cinematográfica - São Paulo (AIC).
Introdução
O leão, no cenário político-econômico-financeiro do Brasil, representa a volúpia do fisco e a insuportável carga tributária infligida a todos nós. Vítimas da impiedosa "mordida" na remuneração mensal, os brasileiros vivem atuando num sistema contributivo desigual e injusto, onde os assalariados é que pagam a conta do déficit público do país. Um Brasil que parece ter esquecido que todo tributo precisa e deve ter uma função social e que os que ganham fortunas são os que têm de contribuir generosamente, enquanto que os que ganham pouco ou quase nada, devem pagar menos tributos ou isentados legalmente.
Assuntos desagradáveis à parte, não obstante, o leão que pretendemos nos reportar nesta oportunidade está longe de ser o famigerado símbolo da cupidez fiscalista, espoliadora que é dos parcos centavos contidos nas algibeiras dos contribuintes. Ao contrário, o leão a que queremos nos referir foi uma das principais personagens de uma série de tevê cult dos nostálgicos e produtivos anos 60. Estamos falando do belíssimo leão vesgo Clarence, do clássico televisivo Daktari.
A Série
Equipe do Dr. Marsh Tracy
Daktari, a série de tevê levada ao ar pela CBS, nos Estados Unidos, no dia 11 de janeiro de 1966, foi, pela última vez, originalmente exibida no dia 15 de janeiro de 1969, quando da exibição de seu último episódio, num total de 89. A produção televisiva foi, na verdade, uma spin-off do filme produzido para o cinema "Clarence the Cross-Eyed Lion" (Clarence, o Leão Vesgo), produção de 1965 criada pelo renomado produtor executivo Ivan Tors, que tem no seu currículo as produções Rhino, Flipper, Namu the Killer Whale (Namu, a Baleia Assassina), dentre outros. No filme, o Doutor Marsh Tracy (Marshal Thompson) é o chefe de um centro de estudos do comportamento animal no Continente Africano. Ele se apaixona por Julie Harper (Betsy Drake), que, por sua vez, estuda a vida dos gorilas. O Dr. Marsh captura um leão que tem estrabismo e que o impossibilita de caçar para se alimentar. Sua filha Paula (Cheryl Miller), batiza a "fera amiga" de Clarence e a trata como um animal domesticado, seu bicho de estimação. Há uma interessante trama envolvendo tropas rebeldes e caçadores de gorilas que desejam trocar suas presas por dinheiro a ser investido na compra de armas.
Voltando à série de tevê, Daktari (que na língua banto quer dizer "médico") conservou da produção cinematográfica as personagens Marsh Tracy (Marshal Thompson), Paula (Cheryl Miller) e Clarence, o leão vesgo. Conta as aventuras de um veterinário americano e sua filha (Marshal Thompson e Cheryl Miller) no Centro de Estudos do Comportamento Animal Wameru, uma reserva florestal de proteção ambiental, localizada no país africano do Quênia. Foram adicionados ao elenco Yale Summers, como o ambientalista Jack Dane; Hari Rhodes, como Mike, um ambientalista africano; Hedley Mattingly, como o oficial britânico da reserva florestal Hedley; além de Ross Hagen (1968/69), como o caçador Bart Jason e Erin Moran (1968/69), como o garoto de seis anos de idade Jenny Jones, um órfão acolhido pelo Dr. Tracy.
Dr. Marsh Tracy
Juntamente com Clarence, também destaca-se no elenco a macaca Judy, grande apreciadora de café, mais conhecida dos fãs da inigualável série de ficção científica Perdidos no Espaço (Lost in Space), produzida entre os anos de 1965/68, e, portanto, contemporânea de Daktari. Na série espacial, Judy era chamada de Debbie e interpretava o bichinho de estimação da personagem Penny (Angela Cartwright). Pouca gente sabe disso, mas realmente Judy e Debbie eram a mesma pessoa... ou melhor, macaca!
Aliás, os dois animais da série de tevê, Clarence e Judy, eram igualmente ou até mais populares do que as personagens racionais da série Daktari. A exemplo de outra série inesquecível, Caubói na África (Cowboy in Africa), Daktari foi filmada na África Californiana, nos Estados Unidos, que era um parque que abrigava mais de 500 animais selvagens, mantido por Ralph Helfer e o próprio Ivan Tors. O parque está localizado mais precisamente em Soledad Canyon, CA, há mais ou menos 60 km ao norte de Hollywood, mas atualmente se encontra desativado. A bem da verdade, parte das filmagens de Daktari foram feitas no Continente Africano, mas muito mais por espírito aventureiro e diversão do que propriamente por conta das locações.
Certa vez, conta a revista TV Guide, o ator Marshall Thompson, o produtor Leonard Kaufman e dois operadores de câmera encontravam-se dispersamente filmando cenas de animais na selva quando perceberam tinham sido cercados por elefantes, principalmente por um enorme elefante-macho que acabou os confrontando. "Há um velho ditado na selva, que diz que não se pode dar marcha a ré num Jeep mais rápido do que um ataque súbito de um elefante. Eu provei que esse ditado é completamente equivocado", disse Thompson. Conta ainda a TV Guide que essa experiência não foi suficiente para o ator, que decidiu que o Jeep deveria surpreender o elefante por trás para conseguir um melhor ângulo para a filmagem das cenas. Ignorando a votação de três contra um contra tal estupidez, Thompson dirigiu em direção ao animal, até que um dos operadores de câmera lhe disse: "Podemos parar agora? Eu já posso ver os olhos do bicho". Thompson, de sua parte, mostrava-se compenetrado. "Todo mundo deve ser atacado por um elefante pelo menos uma vez na vida", disse ele. "Revitaliza o metabolismo".
Dr. Marsh Tracy e Judy
E tais atitudes não foram os únicos pontos de coragem marcados pelo ator. Ele encarava um rinoceronte simplesmente para obter uma maior aproximação para as filmagens e comia o que quer que os nativos da região colocassem na sua frente, sem uma reclamação sequer. O que é mais curioso é que o pior ferimento de Thompson, produzido por um animal selvagem, não aconteceu na selva africana, mas no cenário das locações do parque americano. Os animais na série eram treinados com afeição, que envolvia alimentá-los e perdoá-los para que fossem muito mais dóceis do que infligir-lhes medo e disciplina rígida. Pois bem, quando Thompson tentou devolver um abraço apertado num leopardo agarrando-o efusivamente, o animal deu-lhe uma "amável" mordida no braço direito, deixando uma imensa cicatriz. "Foi culpa minha", admitiu Thompson. "Eu fui descuidado. Não há animais perigosos, apenas pessoas estúpidas".
A co-estrela Cheryl Miller, que fez a filha de Thompson na série, decididamente não era nem um pouco estúpida. Antes do começo das filmagens, ela teve algumas dificuldades enquanto passou por um treinamento de quatro semanas para aprender sobre o humor dos animais e seus padrões de comportamento. "Eu sofri algumas tentativas de mordidas, mas consegui me livrar delas", disse a atriz. Posteriormente ela logo demonstrou ser bastante habilidosa com as feras da série de tevê.
O co-criador Ivan Tors disse à TV Guide que a escalou para o elenco "(...) porque ela tinha a química necessária. Ou você gosta ou você não gosta de animais". O treinador e proprietário do Parque África Californiana, Ralph Helfer, depois explicou: "Ela não era uma das que suava a palma da mão. O animal conhece. Essa garota é tão boa que consegue fazer coisas com Sarang (o tigre de Daktari) que nem mesmo os treinadores conseguem fazer".
Parodiando a forma elogiosa a que se referiu Ralph Helfer quanto ao profissionalismo de Cheryl Miller, o fato é que ser tão boa estava longe de ser o suficiente, acredite. Os treinadores usavam uma outra fórmula para se certificar de que as cenas com os animais selvagens não representassem o mínimo perigo para a integridade física dos atores do elenco. Eles sempre alimentavam as feras antes de levá-las para as filmagens pela manhã.
Parte do trabalho interessante realizado em Daktari credita-se ao experto mago maquilador, o artista John Holden. Quando se precisava de um elefante africano (que tem orelhas grandes), mas o que a produção dispunha era de um elefante indiano (que possui orelhas bem menores), Holden entrava em ação. Ajeitava o animal para parecer que tinha orelhas maiores e ninguém conseguia distinguir o elefante africano do indiano. O multicitado leão Clarence detestava caminhões. Assim, seu substituto chamado Major era usado naquelas circunstâncias. Holden aplicava-lhe uma cauda cabeluda e pintava a cicatriz na fronte do leão, para que se parecesse com Clarence.
Esses detalhes desta produção televisiva, aliados à competência e o carinho do elenco no trato dos animais, assim como os próprios animais, Clarence e Judy, revelaram-se elementos indispensáveis para a aceitação e os bons índices de audiência da série, hoje considerada bastante cult e atualíssima, mostrando o respeito ao meio ambiente, fauna e flora, e levando mensagens de preservação e consideração para com a natureza.
Não podemos deixar de ressaltar que a aceitação quase que unânime de Clarence e Judy, fazia com que recebessem centenas de cartas dos fãs. Mas isso não era muito bem digerido pelo ator Hari Rhodes, que interpretava o nativo ambientalista de nome Mike na série. Segundo a TV Guide, Hari Rhodes teria dito irritado em 1968: "Você deve ler as correspondências dos fãs que eu recebo. Eles só falam sobre o leão Clarence, perguntam se ele é realmente vesgo. Ou sobre Judy, a chimpanzé, que perguntam se ela realmente é tão esperta".
Dr. Marsh Tracy e Clarence
Especulações e sensacionalismos à parte, o fato é que Daktari foi e ainda é bem lembrada, ainda mais hoje, que as questões ambientais estão em evidência, fazendo com que a série jamais perca sua importância e contemporaneidade, além de ser fantástica e bastante agradável de se assistir. Para que se tenha uma vaga idéia da importância do tema abordado nesta série, não podemos deixar de lembrar que a Constituição Federal do Brasil, de outubro de 1988, precisamente na cabeça do seu art. 225, estatui que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".
Diante do dispositivo constitucional declinado, reflito e começo a ter dó das presentes e futuras gerações que não tiveram a oportunidade e a sorte de assistirem à série Daktari, que deveria fazer parte da grade televisiva de um canal aberto de grande audiência, não só restrita a alguns poucos assinantes da televisão por assinatura. Talvez, se as gerações de hoje fossem criadas assistindo a séries de televisão tão agradáveis quanto esta, os jovens pudessem ser mais suportáveis e talvez melhorassem seu conteúdo intelectual, sua formação familiar e se preocupassem mais com a preservação do meio ambiente. Mas, em vez disso, a considerável maioria é diuturnamente exposta ao "lixo" televisivo que é entulhado nos seus respectivos lares. Eles não podem ser considerados depósitos de porcarias e da pouca vergonha que agride o moral e os bons costumes nos dias atuais.
No Brasil
Daktari foi exibida no Brasil pela TV Record e Retro Channel.
Fontes de Pesquisa e Bibliografia
a) Total Television – A Comprehensive Guide do Programming from 1948 to the Present – Alex McNeil; Penguin Books (1991);
b) Mortys TV;
c) TV Guide;
d) Acervo particular do autor.