DAKTARI

Título: Daktari (Daktari/1966-69/EUA/P&B)
Criação:
Ivan Tors
Produção: Ivan Tors
Elenco: Marshal Thompson (como Dr. Marsh Tracy); Cheryl Miller (como Paula Tracy); Clarence; Judy; Yale Summers (como Jack Dane); Hari Rhodes (como Mike); Hedley Mattingly (como o oficial da reserva florestal Hedley); Ross Hagen (como Bart Jason [1968/69]); Erin Moran (como o garoto Jenny Jones [1968/69]).
Música: Shelly Manne, Henry Vars
Estúdio
: Ivan Tors Films, Inc./Metro-Goldwyn-Mayer, Inc./CBS Television
Formato: 89 episódios de 50' (4 temporadas) + 1 longa-metragem de 90'.
Dublagem: Companhia Arte Industrial Cinematográfica - São Paulo (AIC).

Introdução

O leão, no cenário político-econômico-financeiro do Brasil, representa a volúpia do fisco e a insuportável carga tributária infligida a todos nós. Vítimas da impiedosa "mordida" na remuneração mensal, os brasileiros vivem atuando num sistema contributivo desigual e injusto, onde os assalariados é que pagam a conta do déficit público do país. Um Brasil que parece ter esquecido que todo tributo precisa e deve ter uma função social e que os que ganham fortunas são os que têm de contribuir generosamente, enquanto que os que ganham pouco ou quase nada, devem pagar menos tributos ou isentados legalmente.

Assuntos desagradáveis à parte, não obstante, o leão que pretendemos nos reportar nesta oportunidade está longe de ser o famigerado símbolo da cupidez fiscalista, espoliadora que é dos parcos centavos contidos nas algibeiras dos contribuintes. Ao contrário, o leão a que queremos nos referir foi uma das principais personagens de uma série de tevê cult dos nostálgicos e produtivos anos 60. Estamos falando do belíssimo leão vesgo Clarence, do clássico televisivo Daktari.

A Série

Daktari04

Equipe do Dr. Marsh Tracy

Daktari, a série de tevê levada ao ar pela CBS, nos Estados Unidos, no dia 11 de janeiro de 1966, foi, pela última vez, originalmente exibida no dia 15 de janeiro de 1969, quando da exibição de seu último episódio, num total de 89. A produção televisiva foi, na verdade, uma spin-off do filme produzido para o cinema "Clarence the Cross-Eyed Lion" (Clarence, o Leão Vesgo), produção de 1965 criada pelo renomado produtor executivo Ivan Tors, que tem no seu currículo as produções Rhino, Flipper, Namu the Killer Whale (Namu, a Baleia Assassina), dentre outros. No filme, o Doutor Marsh Tracy (Marshal Thompson) é o chefe de um centro de estudos do comportamento animal no Continente Africano. Ele se apaixona por Julie Harper (Betsy Drake), que, por sua vez, estuda a vida dos gorilas. O Dr. Marsh captura um leão que tem estrabismo e que o impossibilita de caçar para se alimentar. Sua filha Paula (Cheryl Miller), batiza a "fera amiga" de Clarence e a trata como um animal domesticado, seu bicho de estimação. Há uma interessante trama envolvendo tropas rebeldes e caçadores de gorilas que desejam trocar suas presas por dinheiro a ser investido na compra de armas.

Voltando à série de tevê, Daktari (que na língua banto quer dizer "médico") conservou da produção cinematográfica as personagens Marsh Tracy (Marshal Thompson), Paula (Cheryl Miller) e Clarence, o leão vesgo. Conta as aventuras de um veterinário americano e sua filha (Marshal Thompson e Cheryl Miller) no Centro de Estudos do Comportamento Animal Wameru, uma reserva florestal de proteção ambiental, localizada no país africano do Quênia. Foram adicionados ao elenco Yale Summers, como o ambientalista Jack Dane; Hari Rhodes, como Mike, um ambientalista africano; Hedley Mattingly, como o oficial britânico da reserva florestal Hedley; além de Ross Hagen (1968/69), como o caçador Bart Jason e Erin Moran (1968/69), como o garoto de seis anos de idade Jenny Jones, um órfão acolhido pelo Dr. Tracy.

Dr. Marsh Tracy

Juntamente com Clarence, também destaca-se no elenco a macaca Judy, grande apreciadoraDaktari01 de café, mais conhecida dos fãs da inigualável série de ficção científica Perdidos no Espaço (Lost in Space), produzida entre os anos de 1965/68, e, portanto, contemporânea de Daktari. Na série espacial, Judy era chamada de Debbie e interpretava o bichinho de estimação da personagem Penny (Angela Cartwright). Pouca gente sabe disso, mas realmente Judy e Debbie eram a mesma pessoa... ou melhor, macaca!

Aliás, os dois animais da série de tevê, Clarence e Judy, eram igualmente ou até mais populares do que as personagens racionais da série Daktari. A exemplo de outra série inesquecível, Caubói na África (Cowboy in Africa), Daktari foi filmada na África Californiana, nos Estados Unidos, que era um parque que abrigava mais de 500 animais selvagens, mantido por Ralph Helfer e o próprio Ivan Tors. O parque está localizado mais precisamente em Soledad Canyon, CA, há mais ou menos 60 km ao norte de Hollywood, mas atualmente se encontra desativado. A bem da verdade, parte das filmagens de Daktari foram feitas no Continente Africano, mas muito mais por espírito aventureiro e diversão do que propriamente por conta das locações.

Certa vez, conta a revista TV Guide, o ator Marshall Thompson, o produtor Leonard Kaufman e dois operadores de câmera encontravam-se dispersamente filmando cenas de animais na selva quando perceberam tinham sido cercados por elefantes, principalmente por um enorme elefante-macho que acabou os confrontando. "Há um velho ditado na selva, que diz que não se pode dar marcha a ré num Jeep mais rápido do que um ataque súbito de um elefante. Eu provei que esse ditado é completamente equivocado", disse Thompson. Conta ainda a TV Guide que essa experiência não foi suficiente para o ator, que decidiu que o Jeep deveria surpreender o elefante por trás para conseguir um melhor ângulo para a filmagem das cenas. Ignorando a votação de três contra um contra tal estupidez, Thompson dirigiu em direção ao animal, até que um dos operadores de câmera lhe disse: "Podemos parar agora? Eu já posso ver os olhos do bicho". Thompson, de sua parte, mostrava-se compenetrado. "Todo mundo deve ser atacado por um elefante pelo menos uma vez na vida", disse ele. "Revitaliza o metabolismo".

Dr. Marsh Tracy e Judy

E tais atitudes não foram os únicos pontos de coragem marcados pelo ator. Ele encarava um rinoceronteDaktari08 simplesmente para obter uma maior aproximação para as filmagens e comia o que quer que os nativos da região colocassem na sua frente, sem uma reclamação sequer. O que é mais curioso é que o pior ferimento de Thompson, produzido por um animal selvagem, não aconteceu na selva africana, mas no cenário das locações do parque americano. Os animais na série eram treinados com afeição, que envolvia alimentá-los e perdoá-los para que fossem muito mais dóceis do que infligir-lhes medo e disciplina rígida. Pois bem, quando Thompson tentou devolver um abraço apertado num leopardo agarrando-o efusivamente, o animal deu-lhe uma "amável" mordida no braço direito, deixando uma imensa cicatriz. "Foi culpa minha", admitiu Thompson. "Eu fui descuidado. Não há animais perigosos, apenas pessoas estúpidas".

A co-estrela Cheryl Miller, que fez a filha de Thompson na série, decididamente não era nem um pouco estúpida. Antes do começo das filmagens, ela teve algumas dificuldades enquanto passou por um treinamento de quatro semanas para aprender sobre o humor dos animais e seus padrões de comportamento. "Eu sofri algumas tentativas de mordidas, mas consegui me livrar delas", disse a atriz. Posteriormente ela logo demonstrou ser bastante habilidosa com as feras da série de tevê.

O co-criador Ivan Tors disse à TV Guide que a escalou para o elenco "(...) porque ela tinha a química necessária. Ou você gosta ou você não gosta de animais". O treinador e proprietário do Parque África Californiana, Ralph Helfer, depois explicou: "Ela não era uma das que suava a palma da mão. O animal conhece. Essa garota é tão boa que consegue fazer coisas com Sarang (o tigre de Daktari) que nem mesmo os treinadores conseguem fazer".

Parodiando a forma elogiosa a que se referiu Ralph Helfer quanto ao profissionalismo de Cheryl Miller, o fato é que ser tão boa estava longe de ser o suficiente, acredite. Os treinadores usavam uma outra fórmula para se certificar de que as cenas com os animais selvagens não representassem o mínimo perigo para a integridade física dos atores do elenco. Eles sempre alimentavam as feras antes de levá-las para as filmagens pela manhã.

Parte do trabalho interessante realizado em Daktari credita-se ao experto mago maquilador, o artista John Holden. Quando se precisava de um elefante africano (que tem orelhas grandes), mas o que a produção dispunha era de um elefante indiano (que possui orelhas bem menores), Holden entrava em ação. Ajeitava o animal para parecer que tinha orelhas maiores e ninguém conseguia distinguir o elefante africano do indiano. O multicitado leão Clarence detestava caminhões. Assim, seu substituto chamado Major era usado naquelas circunstâncias. Holden aplicava-lhe uma cauda cabeluda e pintava a cicatriz na fronte do leão, para que se parecesse com Clarence.

Esses detalhes desta produção televisiva, aliados à competência e o carinho do elenco no trato dos animais, assim como os próprios animais, Clarence e Judy, revelaram-se elementos indispensáveis para a aceitação e os bons índices de audiência da série, hoje considerada bastante cult e atualíssima, mostrando o respeito ao meio ambiente, fauna e flora, e levando mensagens de preservação e consideração para com a natureza.

Não podemos deixar de ressaltar que a aceitação quase que unânime de Clarence e Judy, fazia com que recebessem centenas de cartas dos fãs. Mas isso não era muito bem digerido pelo ator Hari Rhodes, que interpretava o nativo ambientalista de nome Mike na série. Segundo a TV Guide, Hari Rhodes teria dito irritado em 1968: "Você deve ler as correspondências dos fãs que eu recebo. Eles só falam sobre o leão Clarence, perguntam se ele é realmente vesgo. Ou sobre Judy, a chimpanzé, que perguntam se ela realmente é tão esperta".

Dr. Marsh Tracy e Clarence

Especulações e sensacionalismos à parte, o fato é que Daktari foi e ainda é bem lembrada,daktaritvshow-wordpress-com-yale-summers-jack-dane-hari-rhodes-mike-makula-marshall-thompson-dr-marsh-tracy-clarence-the-cross-eyed-lion-daktari ainda mais hoje, que as questões ambientais estão em evidência, fazendo com que a série jamais perca sua importância e contemporaneidade, além de ser fantástica e bastante agradável de se assistir. Para que se tenha uma vaga idéia da importância do tema abordado nesta série, não podemos deixar de lembrar que a Constituição Federal do Brasil, de outubro de 1988, precisamente na cabeça do seu art. 225, estatui que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".

Diante do dispositivo constitucional declinado, reflito e começo a ter dó das presentes e futuras gerações que não tiveram a oportunidade e a sorte de assistirem à série Daktari, que deveria fazer parte da grade televisiva de um canal aberto de grande audiência, não só restrita a alguns poucos assinantes da televisão por assinatura. Talvez, se as gerações de hoje fossem criadas assistindo a séries de televisão tão agradáveis quanto esta, os jovens pudessem ser mais suportáveis e talvez melhorassem seu conteúdo intelectual, sua formação familiar e se preocupassem mais com a preservação do meio ambiente. Mas, em vez disso, a considerável maioria é diuturnamente exposta ao "lixo" televisivo que é entulhado nos seus respectivos lares. Eles não podem ser considerados depósitos de porcarias e da pouca vergonha que agride o moral e os bons costumes nos dias atuais.

No Brasil

Daktari foi exibida no Brasil pela TV Record e Retro Channel.

Fontes de Pesquisa e Bibliografia

a) Total Television – A Comprehensive Guide do Programming from 1948 to the Present – Alex McNeil; Penguin Books (1991);
b) Mortys TV;
c) TV Guide;
d) Acervo particular do autor.

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Sou uma pessoa feliz, amo muito a vida e dela sou aprendiz; Tenho várias paixões, entre elas: Colecionar MINIATURAS, mas, como qualquer um, possuo imperfeições; se os caminhos desta vida ainda não sei de cor, pelo menos busco, a cada dia, tornar-me alguém melhor.

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