Título: Bonanza (Bonanza/1959-73/EUA/Cor)
Criação e produção: David Dortort
Elenco: Lorne Greene (Ben Cartwright), Pernell Roberts (Adam Cartwright), Dan Blocker (Hoss Cartwright), Michael Landon (Joe Cartwright), Victor Sen Yung (Hop Sing), David Canary (Candy), Mitch Vogel (Jamie Hunter) e Tim Matheson (Griff King)
Música-Tema: Jay Livingston e Ray Evans
Produtora: National Broadcasting Company (NBC)/Paramount Studios
Formato: 431 episódios de 50 minutos, distribuídos em 14 temporadas; 3 telefilmes
Dublagem: AIC/SP
Exibição no Brasil: TV Tupi (1963, sáb, 20h55) [estreia]
A Série
O que esperar de uma série de tevê criada com o intuito único e simples de se vender aparelhos de televisão coloridos e mostrar à sociedade que filhos também podem ser criados (e muito bem) pela figura paterna tão-somente? Nem o mais otimista dos produtores envolvidos na concepção de Bonanza, máxime seu criador, o produtor executivo David Dortort, poderia imaginar que a quase marca de 1 bilhão de telespectadores iria algum dia ser atingida no mundo todo. Muito menos, poderia vislumbrar que a série se tornaria o tremendo sucesso que é até os dias atuais.
Bonanza mantém até hoje a posição de segunda maior série de tevê no gênero faroeste, em termos de longevidade, com 431 episódios distribuídos em 14 temporadas, perdendo apenas para Gunsmoke em que foram produzidos 635 episódios, distribuídos em 20 temporadas.
A decência, o sentimento de honra acima de tudo, o compromisso, a bravura, o respeito pelo patriarca e pelo ser humano, a coragem do clã Cartwright, a preocupação com o próximo, o fato de ser a primeira série de faroeste inteiramente produzida em cores, a inesquecível música de abertura, o cenário colorido e as locações do belíssimo Rancho Ponderosa (uma propriedade rural de mais de mil milhas quadradas). Enfim, foram alguns dos inúmeros ingredientes que mais contribuíram para o grandioso sucesso da série no mundo todo.
Atores e Personagens
Encenada nas redondezas da cidade de Virgínia, no Estado de Nevada (EUA), na época imediatamente posterior à Guerra Civil, Bonanza centrou suas tramas na família Cartwright, representada pelo ator canadense Lorne Greene (Ben Cartwright), sempre envolvendo temas referentes à mineração, banqueiros e interesses de rancheiros. Lorne Greene viveu a personagem do patriarca e proprietário do Rancho Ponderosa. Soube criar seus três filhos sem a ajuda de nenhuma mulher, era respeitado por toda a sociedade e tido como homem justo, honesto e trabalhador, altamente conceituado na Cidade de Virgínia e nas cidades vizinhas. Muitas vezes era alvo de inveja e de aventureiros que com ele tencionavam medir forças. Apesar de ser um rico fazendeiro, Ben jamais teve sorte no amor. Ficou viúvo três vezes, perdendo as três esposas com as quais teve três diferentes filhos: Adam, Hoss e Joe, todos meio-irmãos, ou seja, irmãos apenas por parte de pai. Lorne Greene morreu aos 72 anos de idade, precisamente no dia 11 de setembro de 1987, vítima de uma pneumonia. Os mais jovens o conhecem pela participação no elenco de Galactica, série de ficção científica dos anos 80.
Pernell Roberts (Adam), o único dos atores principais ainda vivo, era conhecido como o Cartwright de Preto, pela sua maneira de trajar, quase sempre usando a cor preta. Na verdade, o ator Pernell Roberts jamais gostou da série Bonanza. Sempre detestou os roteiros e as falas, achando-a uma produção medíocre. Esteve sempre preso ao contrato que havia assinado com os chefões da NBC, a rede de televisão americana responsável pela produção. Por ele, Roberts, teria rescindido o contrato há muito mais tempo, antes mesmo das seis temporadas a que se obrigara contratualmente. Fato curioso é que ele caiu no ostracismo após deixar o elenco da série, fazendo várias pontas em outras séries de faroeste, mas nunca com destaque. Numa entrevista dada imediatamente após deixar o elenco de Bonanza, Roberts falou a Landon (Joe Cartwright) que o motivo da sua saída era o seguinte: "Eu deixei o elenco porque não havia uma competência equânime entre os atores, e que mesmo você, Michael, era um destreinado e que estava adquirindo maus hábitos de interpretação. O que eu quero dizer é que a série Bonanza não está fazendo jus a todo o seu potencial e talento artístico, você não está se desenvolvendo como deveria." O fato é que dizem as más línguas que Michael Landon assimilou tais palavras não como uma crítica construtiva, mas sim como um ataque pessoal de Roberts e jamais o perdoou por isso. O mais interessante de tudo é que Roberts, de todos os atores principais, era o que mais recebia cartas de fãs, principalmente das mulheres. Os mais ardorosos fãs declinam como os episódios mais clássicos aqueles que foram protagonizados por ele. Quem já assistiu aos episódios "Os Esperançosos" (The Hopefuls) e "The Crucible" sabe muito bem do que se está falando.
Dan Blocker (Hoss) era conhecido como o Cordial Gigante, dotado de uma força descomunal e uma mentalidade infantil, eu diria, pueril. Lembro-me de sua aparição como um bandido no episódio piloto de O Rebelde e quando o assisto em Bonanza, vejo que não haveria melhor papel para ele senão o de Hoss. Um dos melhores episódios que já assisti de Bonanza com sua marca registrada foi "O Macaco" (The Ape), onde sua força descomunal paradoxalmente se conflita com o seu bondoso coração e o sentimento de pena e solidariedade para com os marginalizados. Outro também que reflete bem o papel de Blocker é o episódio "A Criança" ("The Child") e "Hoss e os Anõezinhos" ("Hoss and the Leprechauns"). O ator era casado e tinha quatro filhos. Morreu repentinamente no dia 13 de maio de 1972, vítima de insuficiência respiratória e ataque cardíaco, aos 43 anos de idade, justamente no intervalo entre as temporadas 13 e 14. O episódio "Forever", em duas partes, deveria, em tese, ter sido o mais importante para a atuação de Blocker, uma vez que foi justamente escrito para ele e oferecido por Landon. Nesse episódio ele finalmente se casaria, mas sua alegria seria completamente destruída na segunda parte, pois sua mulher, grávida, seria assassinada.
Aliás, uma das heranças dos Cartwright era a infelicidade no amor. Quando todos pensavam que finalmente veríamos um dos filhos de Ben, felizes e casados, para não fugirem do exemplo de seu pai, os filhos perdiam suas mulheres e amadas antes de se casarem. Ou por assassinato ou porque elas decidiam ir embora para nunca mais voltar.
Michael Landon (Pequeno Joe) é o caçula dos três irmãos e nas primeiras temporadas era bastante irritado, corajoso, destemido e rápido no gatilho. Não dispensava um rabo de saia, muito menos uma boa briga. Com o passar dos anos e nas últimas temporadas, tornou-se uma personagem inteligente, mais madura e mais cautelosa. O verdadeiro nome de Michael Landon era Eugene Maurice Orowitz. Landon mudou seu nome ainda quando estava no anonimato do sucesso e a escolha para Michael Landon se deu de forma aleatória, o nome foi escolhido por ele após uma busca na lista telefônica de Los Angeles. Após se tornar um milionário por conta do sucesso de Bonanza, Landon também participou de outro drama-western, "Os Pioneiros" ("Little House on the Prairie"), que durou dez temporadas. Dizem que a intenção primeira de Landon com "Os Pioneiros" foi a de ajudar todas as pessoas que já haviam trabalhado com ele na parte técnica em Bonanza, pois a grande maioria dos técnicos também o ajudaram naquela produção, a exemplo do que ocorreu na série "O Homem que Veio do Céu" ("Highway to Heaven"). Michael Landon morreu em sua casa, em Malibu, no dia 1º de Julho de 1991, vítima de câncer no pâncreas, aos 54 anos de idade e foi um dos maiores representantes da indústria do entretenimento nos EUA, abraçando inúmeras causas sociais e contribuindo para as mesmas.
Após a morte de Dan Blocker, o produtor e criador David Dortort tentou manter a série viva e, apesar de saber que o papel e a figura de Blocker eram insubstituíveis, trouxe para o elenco, de forma regular, David Canary (Candy) e também apresentou ao público mais um nome, o de Mitch Vogel, como o filho adotado de Ben, Jamie. Tim Matheson também protagonizou uma nova personagem, a de um fora-da-lei que indesejadamente trabalhava no Rancho Ponderosa, Griff King. Apesar dos esforços do criador da série, Bonanza não conseguia mais alavancar o sucesso de antes e teve o seu final decretado na primeira quinzena do mês de janeiro de 1973.
Bonanza foi na verdade uma série eminentemente masculina. Apesar de pouquíssimas mulheres serem vistas, os Cartwright mantinham sua casa em Ponderosa de forma impecável (com a ajuda do mordomo-cozinheiro chinês, Hop Sing, que na verdade era o ator Victor Sen Yung). Por ironia do destino, Sen Yung morreu em 09/11/80, justamente num acidente provocado pelo fogão da sua casa, devido um vazamento de gás, sem um tostão sequer e num apartamento alugado, precisamente aos 65 anos de idade.
A série é inesquecível e infelizmente há muito tempo não se vê Bonanza na televisão brasileira. Ao contrário do que ocorre em outros países, que sempre reservaram um espaço e um canal aberto ou por assinatura para manter acesa a chama da mais famosa família das séries de tevê, a Família Cartwright e seus intrépidos protagonistas. Felizmente, há uma emissora de tevê paga da cidade de São Paulo que vem exibindo a série todas as sextas-feiras. Além disso, algumas empresas vêm lançando alguns episódios da série em DVD. Porém, nenhum dos DVDs lançados trazem a inesquecível dublagem da antiga AIC - São Paulo, somente encontrada nas mãos de alguns poucos colecionadores brasileiros.
Os telefilmes finais
Finalmente, três tele-filmes foram produzidos. Um em 1988 ("Bonanza: The Next Generation"), que dá conta da chegada dos novos Cartwright ao Rancho Ponderosa, a fim de reclamarem seu legado. Outro em 1993 ("Bonanza: The Return"), onde o clã dos Cartwright volta à cena de Ponderosa para combater e enfrentar um inescrupuloso magnata. Finalmente, em 1995 ("Bonanza: Under Attack"), com a participação de Leonard Nimoy, dá conta da estória dos descendentes dos Cartwright num conflito envolvendo os agentes da firma de detetives Pinkerton, que perseguem o ex-fora-da-lei Frank James, tendo Ponderosa como um campo de batalha.
Ponto de Vista
Bonanza é conhecida como uma série de violência temperada na grande maioria dos seus episódios. Há alguns bastante cômicos - os piores da série - uma vez que o gênero do faroeste não combinava muito com o estilo cômico. Faroeste é coisa séria, não é brincadeira não. Várias estrelas protagonizaram alguns episódios de Bonanza, dentre eles Guy Williams (Zorro, Perdidos no Espaço), que era sobrinho de Ben, primo dos irmãos Cartwright. A química de Guy Williams com Bonanza, na minha modesta opinião não vingou e apenas em quatro ou cinco participações, Guy encerrou seu ciclo na série, vivendo um triângulo amoroso com a noiva de Adam.
Aliás, havia uma maldição terrível no clã dos Cartwright: as mulheres sempre iam embora, abandonando os guapos ou morriam na trama e de forma impiedosa, despertando sempre uma fúria vingativa nos respectivos namorados e noivos. Podemos destacar também um episódio fabuloso chamado "O Mundo é Meu" com o grande Telly Savalas, um homem poderoso, riquíssimo, sem o menor escrúpulo para conseguir o que pretende, no caso, o Rancho Ponderosa. Outros episódios inesquecíveis que podemos citar são aqueles que revelam o ganho de maturidade da personagem Pequeno Joe, que aceita o cargo de xerife no episódio "The Tin Badge" ( "A Insígnia de Lata") para mostrar a seus irmãos que não é mais o simples caçula da família, mas um homem de verdade.
Os episódios trazem inúmeros conflitos pessoais e até mesmo de existência. Os três irmãos, apesar de unidos, não dispensam uma boa briga entre eles, ainda que sem conseqüências muito graves. No episódio "O Vingador" (" The Avenger"), Vic Morrow, da série Combate, alia-se a Hoss e Joe para tentar resgatar e salvar Ben da forca iminente por um crime que não cometeu. Outros episódios inesquecíveis e mais cobiçados dentre os colecionadores é "The Quest" ("O Inquérito"), em que mais uma vez o conflito entre os três irmãos aflora e Joe tem que provar que não é mais um garoto. "The Gift" ("O Presente") é outro episódio muito lembrado com a participação de Martin Landau (Missão Impossível, Espaço 1999), onde Joe, numa longa jornada pelo deserto, vai atrás de uma cavalo árabe para presentear seu pai. São tantos episódios maravilhosos e inesquecíveis que marcaram a infância de milhões de adultos hoje que fica até difícil de descrever alguns para não cometermos alguma injustiça. (AP)
Curiosidade
Um fato muito curioso e que pouca gente sabe é que o famoso tema de abertura de Bonanza foi interpretado por um brasileiro. Falecido em 1995, Laurindo de Almeida era pouco conhecido no Brasil e vivia nos EUA, onde fazia muito sucesso.
Laurindo chegou a dar uma entrevista ao Jô Soares (no tempo do SBT), onde informou ser o guitarrista dos seriados Bonanza, Caravana (Wagon Train, 1957/65), Couro Crú (Rawhide, 1959/65), além de filmes de sucesso como "Nevada Smith" (Nevada Smith, 1966) e "Os Imperdoáveis" (The Unforgiven, 1992).
1 comentários:
Laurindo de Almeida apenas confirma a proverbial mania que o brasileiro tem de não valorizar seus próprios talentos. André Jereissati e José Mojica Marins que o digam. São agraciados lá fora e espinafrados aqui. E quanto à Bonanza de um modo geral, é a segunda série que mora no meu coração até hoje, sendo a primeira e a que mais me marcou, THE VIRGINIAN, (O HOMEM DE VIRGINIA). E valeu demais esta postagem Augusto.
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